Homens estão cada vez mais vaidosos, mas ainda descuidam da saúde

Os homens temem desenvolver doenças cardiovasculares e problemas relacionados à impotência sexual, mas não costumam frequentar especialistas médicos como medida preventiva

Desde a infância, a relação dos homens e das mulheres com a saúde é diferente. Enquanto as meninas são levadas pelas mães ao ginecologista logo na primeira menstruação – muitas vezes até antes disto –, os meninos não são estimulados a criar o hábito de fazer visitas periódicas ao médico. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), realizada em parceria com a Bayer, com mais de 3,2 mil homens acima dos 35 anos, em oito capitais brasileiras, mostra que 51% nunca foram ao urologista. Entre os que já estiveram em um consultório da especialidade, apenas 42% se cuidam com regularidade, enquanto 52% vão ao médico eventualmente.

“O homem começa a se preocupar com a saúde a partir dos 40 anos. Antes disso, é raríssimo”, afirma o urologista do Centro de Urologia do Hospital 9 de Julho, Dr. Edgard Romanato. E mesmo nesse estágio da vida, a procura por um médico, normalmente, ocorre devido a uma iniciativa da parceira. “É muito comum o paciente vir acompanhado da esposa e pedir que ela explique o motivo da consulta, os sintomas que vem sentindo”, conta o doutor em Urologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), membro do núcleo de Urologia da AC Camargo e diretor de comunicação da SBU, Dr. Carlos Sacomani.

Desenvolver problemas cardiovasculares e perder o vigor sexual são os maiores medos dos homens, segundo a pesquisa da entidade. Entre os entrevistados, 28% afirmaram que doenças do coração são as que mais preocupam e 19% têm mais temor de desenvolver impotência sexual. Câncer de próstata (14%) e diabetes (13%) foram citados por um percentual menor de participantes do estudo.

Estimulantes sexuais

Em uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), realizada em parceria com a Bayer, descobriu-se que 29% dos brasileiros fazem uso de medicamento para estimular a ereção. Dentro desse universo, 55% visam melhorar a performance sexual, 25% desejam aumentar o apetite sexual, 10% buscam regular os níveis hormonais e outros 10% tomam para tratar andropausa.
A Sildenafila é a mais utilizada no combate à disfunção erétil. Os medicamentos compostos por essa substância provocam vasodilatação dos corpos cavernosos, levando a um melhor afluxo de sangue à região do pênis, o que, por sua vez, propicia uma ereção melhor. Para esse tipo de tratamento, existe a necessidade do estímulo sexual e a medicação deve ser tomada com certa antecedência.
Quando utilizado com recomendação médica, por pacientes que realmente apresentem problema de ereção, o medicamento atua de forma segura. O problema é que nem sempre a administração é feita dessa maneira. Apenas 38% dos entrevistados garantiram que tomam o medicamento com orientação de um profissional de saúde.

Mas mesmo diante de tamanho receio, a visita aos especialistas e a realização de exames periódicos ainda têm prevalência baixa. Quando se trata da falta de atenção aos problemas cardiovasculares, o professor colaborador do Departamento de Cardiopneumologia da FMUSP e médico assistente do Hospital das Clínicas, Dr. Maurício Wajngarten, acredita que o fato esteja relacionado à baixa percepção de risco. Em uma pesquisa realizada com os pacientes do Hospital Israelita Albert Einstein, quase a metade dos homens, que realizaram um checkup geral e tinham risco médio a moderado e alto de desenvolver doenças cardiovasculares, achava que não tinha nenhum problema.

Essa falta de percepção é extremamente perigosa, já que, depois de fatores externos, como a violência, os acidentes de trânsito e o abuso de drogas lícitas e/ou ilícitas, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre homens. “Os hábitos de vida dos indivíduos do sexo masculino são os que os tornam mais suscetíveis. O uso em excesso de bebida alcoólica, o tabagismo e a elevação da pressão arterial são as principais causas da diferença de expectativa de vida entre os homens e as mulheres”, destaca o coordenador do Núcleo de Urologia do Hospital Samaritano, Dr. Alexandre Crippa.

Atualmente, a expectativa de vida das mulheres brasileiras é de 7,3 anos maior que a dos homens, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto elas vivem, em média, 78,6 anos, os homens chegam até os 71,3. A falta de uma rotina de cuidados pode ser a explicação para a diferença. Entre os entrevistados da pesquisa da SBU, 33% disseram que as visitas ao médico são negligenciadas por falta de tempo, 32%, pela ausência de motivos e outros 15%, por medo.
“O homem passa outras coisas na frente da saúde, como compromissos profissionais, cuidados com bens materiais. Vemos uma preocupação com doenças, mas não com a prevenção”, opina o presidente da SBU de São Paulo, biênio 2014/2015, e professor assistente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Dr. Roni de Carvalho Fernandes.

A falta de cuidado do homem com a própria saúde pode ser percebida quando analisado o uso de preservativo nas relações sexuais. Apesar de darem muito valor à performance sexual, boa parte dos homens não se preocupa com a segurança na hora do sexo. Dados coletados pelo Ministério da Saúde em 2014 revelam que pelo menos 45% da população sexualmente ativa do País não usou preservativo em relações sexuais casuais. O percentual reflete nos números atuais de casos novos de doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a aids, visto que, o Brasil registra um dos piores indicadores mundiais dessa patologia e o número de casos segue aumentando.

Parte do problema está relacionado à imagem que se tem dos portadores de HIV (a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana). Logo no começo da epidemia, nos anos 1980, a doença atingia principalmente os homossexuais, os usuários de drogas injetáveis e os hemofílicos, porém, hoje, este cenário mudou. Atualmente, o termo utilizado é o ‘comportamento de risco’, pois qualquer pessoa, mesmo em uma relação heterossexual, pode ter a doença desde que não tome atitudes preventivas, como, por exemplo, ter relação sexual com pessoa infectada e sem uso de preservativos.

A saúde sexual

O pouco cuidado com a saúde é um contrassenso masculino quando analisado o medo que os homens têm de desenvolver problemas de impotência sexual. Além de mostrar que a disfunção erétil está entre os problemas mais temidos por eles, a pesquisa da SBU revelou que 42% dos homens têm medo de não ter uma ereção. O mau desempenho na “hora H” afeta a autoestima de 38%, prejudica o relacionamento com a parceira para 33% e diminui a qualidade de vida e bem-estar para 16% deles.
Com tamanha preocupação, os especialistas alertam que os homens deveriam se cuidar. A disfunção erétil atinge entre 30% e 40% da população masculina e tem causa multifatorial. “Toda questão que mexe com a vascularização, como diabetes, hipertensão alta e tabagismo, prejudica o caminho do sangue até o corpo cavernoso e pode atrapalhar a ereção”, explica o Dr. Romanato. Por isso, a impotência sexual é mais comum após os 40 anos de idade, pois é nesta fase que as doenças crônicas começam a ter repercussão maior. “Mesmo assim, a maioria dos homens insiste em não se cuidar, sequer mede a pressão arterial, sendo que problemas cardiovasculares são um dos principais causadores de impotência”, lembra o Dr. Fernandes.

Doenças metabólicas, como diabetes e obesidade, também podem estar ligadas a outro problema que afeta a vida sexual de cerca de 20% dos homens brasileiros, segundo a SBU: o Declínio Androgênico do Envelhecimento Masculino (DAEM). Popularmente conhecida como andropausa, a disfunção consiste na queda progressiva das taxas dos hormônios masculinos.

A desinformação a respeito do tema pode estar levando muitos homens a sofrer com a perda da libido sem saber que há tratamento hormonal seguro para reverter a questão. Na pesquisa realizada pela SBU, descobriu-se que 57% dos entrevistados não sabiam o que era andropausa e 71%, desconheciam os sintomas.

Quando questionados sobre as razões pelas quais pode ocorrer queda nos níveis de testosterona, a falta de conhecimento persiste. Segundo 30% dos homens ouvidos, o problema está ligado ao excesso de trabalho e estresse do dia a dia e 17% acreditam na relação com problemas emocionais e psicológicos. Apenas 15% entendem que são as mudanças nos níveis hormonais que podem ocasionar a andropausa e 68% não sabem a diferença entre terapia de reposição hormonal e estimulante sexual.
Caso frequentassem mais os consultórios médicos, os homens saberiam melhor que o DAEM – ou andropausa – pode ter causa congênita, ou seja, por algum problema genético, a produção de hormônios é falha, ou tardia, e surge com o avançar da idade combinado com comorbidades, como doenças metabólicas. Com uma reposição hormonal intracutânea ou intramuscular é possível estimular a volta da produção de hormônios e cessar os desconfortos causados pela disfunção.

O câncer de próstata é outro problema muito comum entre os homens, que deveria justificar uma ida ao urologista periodicamente após os 40 anos. No Brasil, esse tipo de tumor é o segundo mais comum entre o sexo masculino (atrás apenas do câncer de pele não melanoma), segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Em valores absolutos, é o sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente em homens, representando cerca de 10% do total de cânceres.

O número de casos poderia ser revertido caso a ida ao urologista ainda não fosse vista como um tabu por boa parte da ala masculina. “O mito do toque retal afasta muita gente dos consultórios, mas o exame é rápido e simples. A mulher se sujeita a procedimentos muito mais complicados ao longo de toda a vida”, ressalta o Dr. Fernandes.

Novo padrão de consumo

Edição 273 - 2015-08-01 Novo padrão de consumo

Essa matéria faz parte da Edição 273 da Revista Guia da Farmácia.

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