Atenção aos sinais de risco

Ele é uma das principais causas de morte e de sequelas tanto no mundo quanto no Brasil. O Acidente Vascular Cerebral atinge 16 milhões de pessoas ao redor do globo a cada ano. Desse total, seis milhões morrem 

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) se caracteriza pelo rompimento ou atrofia das veias do Sistema Nervoso Central (SNC). Ele ocorre quando a circulação de sangue no cérebro é subitamente interrompida, usualmente quando um coágulo entope uma das artérias que levam oxigênio para o cérebro (AVC isquêmico). Menos comum, um AVC pode também ser causado por um sangramento no cérebro (AVC hemorrágico).

Além desses dois tipos, o coordenador do centro de AVC do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Roberto Carneiro, destaca um terceiro, a trombose das veias do cérebro, mais comum em mulheres fumantes e que são usuárias das pílulas anticoncepcionais.

Um conjunto de fatores pode levar uma pessoa a ser acometida por um AVC. Hipertensão arterial, doença cardiovascular, aterosclerose (colesterol alto), diabetes mellitus, obesidade, sedentarismo, tabagismo, alcoolismo, doenças genéticas de coagulação e idade avançada, são alguns deles, de acordo com o especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Associação Médica Brasileira (AMB) e integrante da equipe de cardiologia no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. Américo Tângari Junior.

Além desses fatores, o uso de anticoncepcionais, anabolizantes, termogênicos e anoréxicos podem causar vasoconstrição grave, levando à incidência do AVC, principalmente em jovens, completa o Dr. Carneiro.

“O risco do AVC aumenta com a idade, sobretudo após os 55 anos. Pessoas da raça negra e com histórico familiar de doenças cardiovasculares também têm mais chances”, salienta a neurologista do Hospital Santa Paula, Dra. Renata Simm.

Sintomas e tratamentos do AVC

Incapacidade de mexer alguma parte do corpo, diminuição repentina da força muscular, dormências ou perda da consciência são alguns dos sintomas de quem está tendo um acidente vascular.

Porém, o Dr. Carneiro alerta que esses sinais não são regra. Os sintomas dependem da região do cérebro que foi acometida. “O déficit sempre se inicia de forma abrupta, apenas a hemorrágica é acompanhada de dor de cabeça.” Por isso, os especialistas aconselham a procurar ajuda médica imediata.

Conhecer bem os sintomas é essencial para o rápido atendimento, já que quanto mais cedo o diagnóstico for feito, menores são as chances de sequelas e mais rápida é a recuperação.

Segundo informa o diretor científico da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), Dr. Eduardo Benchimol Saad, primeiro é importante identificar rapidamente os sintomas para que o paciente possa ser encaminhado o quanto antes a um serviço de emergência. Pedir para que a pessoa sorria, abrace ou pronuncie uma frase são procedimentos que facilitam a identificação do surgimento de um AVC. “Sempre é necessária a realização de exames de neuroimagem, como tomografia de crânio ou ressonância magnética para identificar a área do cérebro afetada e o tipo de derrame (isquêmico ou hemorrágico)”, salienta a gerente do Programa de Neurologia do Hospital Israelita Albert Einstein, Dra. Gisele Sampaio.

Dependendo do tipo identificado, o AVC terá diferentes tratamentos. Caso seja isquêmico, frequente em 80% dos casos, o tratamento consiste em medicamentos para dissolver coágulos e cateterismo cerebral. O ideal é que o atendimento ocorra em até quatro horas após o início dos sintomas para que a resposta seja satisfatória, como explica o Dr. Tângari Junior.

Passada a fase aguda, o paciente deverá receber medicamentos que evitam a formação de novos coágulos, como antiagregantes ou anticoagulantes. Em casos de AVC hemorrágico, o tratamento é conservador (controle da hipertensão arterial) e, em quadros graves, pode ser necessária cirurgia para alívio do sangramento.

A vida pós-AVC

Depois de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), dependendo da intensidade das sequelas, o paciente necessitará de acompanhamento de uma equipe médica multiprofissional, composta inclusive de um fisioterapeuta, de extrema importância para uma recuperação eficiente. O envolvimento de amigos e familiares, terapia ocupacional e fonoterapia, para casos de distúrbio da fala, também são indicados. Além disso, o acompanhamento de um psicólogo pode ajudar.

A neurologista do Hospital Santa Paula, Dra. Renata Simm, destaca que é necessário que o paciente inicie uma vida saudável. Parar de fumar, tomar corretamente as medicações prescritas, controlar os fatores de risco, alimentação correta e exercícios físicos regulares, mantendo a reabilitação quando indicada. “Não existe um tempo definido, no entanto, sabemos que quanto antes iniciar a reabilitação e isto significa começá-la já no hospital durante a internação, melhor será a resposta.”

Dependendo da intensidade das sequelas, o paciente poderá realizar suas atividades rotineiras normalmente após o período de recuperação. Nos casos mais graves, o paciente deverá ter um acompanhamento médico recorrente.

“Há casos leves, em que a recuperação se dá em poucos meses e, nos casos mais graves, o paciente está sujeito a submeter-se a tratamento pelo resto da vida”, enfatiza o especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Associação Médica Brasileira (AMB) e integrante da equipe de cardiologia no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. Américo Tângari Junior.

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Sequelas causadas

As consequências, de acordo com a Dra. Renata, podem ser muito grandes, dependendo da área cerebral acometida e, principalmente, se o paciente não for atendido em tempo hábil. Costumam ocorrer paralisia total ou parcial de um lado do corpo, dificuldade para falar e compreender e dificuldade para andar. Apenas 17% dos pacientes após um ano do AVC evoluirão sem sequelas.

Elas dependem do tempo em que o tratamento é iniciado, sendo maior quanto mais a demora em tratar. As mais comuns são perda dos movimentos, dificuldades da fala e alterações da sensibilidade. Em casos graves, pacientes podem ficar em estado vegetativo (coma permanente).

Como os AVCs podem ser isquêmicos ou hemorrágicos, as sequelas serão diferentes em cada caso, como orienta o Dr. Tângari Junior. “Nos isquêmicos, temos o AVC-t (transitório), que dura um tempo menor e, geralmente, não deixa lesões. O hemorrágico depende da área afetada pelo sangramento e de sua intensidade.”

O AVC é considerado uma doença grave, pois as sequelas podem ser incapacitantes para os pacientes e é um problema de saúde pública, pois atinge uma significativa parcela da população. “É a principal causa de morte no Brasil e a segunda no mundo”, alerta o integrante da equipe de cardiologia no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Segundo dados do Ministério da Saúde [Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS)], a incidência do AVC é de 108 casos para cada 100 mil habitantes.


Autor: 
Vivian Lourenço

Análise clínica

Edição 274 - 2015-09-01 Análise clínica

Essa matéria faz parte da Edição 274 da Revista Guia da Farmácia.

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