Saúde masculina

Câncer de próstata e disfunção erétil são temas intimamente ligados ao universo masculino e que precisam ser mais debatidos e expostos para que o número de casos diminua e as chances de cura aumentem a cada dia 

Ainda hoje existem temas que são tabus para muitas pessoas e disfunção erétil é um deles. Muitos homens têm receio, vergonha de falar sobre o assunto e até mesmo de procurar ajuda médica. Atitudes que só atrasam o tratamento e retardam as chances de cura.

A Disfunção Erétil (DE), ou impotência sexual como é popularmente conhecida, se caracteriza pela incapacidade persistente em ter ou manter uma ereção peniana suficiente para uma relação sexual satisfatória. “A DE é diferente de uma falha ocasional, é um problema recorrente e persistente que atinge 25 milhões de brasileiros, sendo que, deste total, 48,5% são homens com idade acima dos 40 anos. Além disso, todo ano, nos deparamos com um milhão de novos casos de DE”, comenta o coordenador geral do departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Dr. Antônio de Moraes Júnior.

De acordo com o especialista, há três causas que justificam o aparecimento da DE: psicogênica, orgânica e mista. A primeira diz respeito a fatores emocionais e psicológicos, como depressão, por exemplo. A orgânica está relacionada a uma série maior de fatores, como lesões no nervo peniano; problemas vasculares, como obstrução de artéria; hormonal, como a queda nos níveis de testosterona; e até medicamentosa, em função do uso contínuo de substâncias para controle da pressão arterial e tratamento da depressão. Já a causa mista é uma junção dos fatores psicogênicos e orgânicos.

“No caso da DE por medicamento, isto pode ocorrer porque todo medicamento tem o chamado efeito colateral e os citados têm este efeito”, diz o Dr. Moraes Júnior. A DE também pode ser classificada de acordo com o nível de gravidade do problema que pode ir de leve a grave. “Nos casos leves, o indivíduo ainda consegue ter uma ereção satisfatória ocasional. Moderado é quando o insucesso é maior do que o sucesso e atrapalha a qualidade de vida da pessoa e, nos casos graves, o homem realmente não consegue ter a ereção”, explica o Dr. Moraes Júnior.

Predisposição e tratamento

Diabéticos, hipertensos, obesos, fumantes, alcoólatras, usuários de drogas e pós-operados de câncer de próstata estão no grupo de risco de DE. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o paciente com diabetes possui de 35% a 75% a mais de probabilidade de apresentar DE do que o não diabético. Uma pessoa de 70 anos com diabetes tem 95% de probabilidade de ter problemas sexuais. Aliás, o problema tende a surgir com o avanço da idade. A boa notícia é que existe tratamento e até cura para o problema.

“O principal é diagnosticar a causa e tratá-la”, comenta o Dr. Moraes Júnior. Segundo o médico, existem três formas de tratamento para a DE. A primeira baseia-se no uso de drogas orais, inibidoras da enzima PDE 5 e promovendo o relaxamento da musculatura lisa do pênis, permitindo que ele se encha de sangue e consequentemente ocorra a ereção. “Essas drogas apresentam de 80% a 85% de eficácia, porém não agem sozinhas, é preciso estímulo para que haja a ereção. Seu efeito se dá de oito até 36 horas após ser ministrada”, diz o especialista.

Ele ainda explica que uma segunda proposta de tratamento são drogas injetáveis que promovem relaxamento direto da musculatura, dispensando estímulo e com efeito a partir de quatro minutos pós-aplicação. Por fim, há ainda as próteses penianas maleáveis que promovem ereção permanente e as infláveis. “Ainda deveríamos considerar como forma de tratamento a conscientização, a educação, a mudança cultural e o debate sobre o tema que infelizmente ainda é tabu, principalmente entre os latinos. Sonho com o dia em que teremos uma disciplina sobre sexualidade nas escolas onde esse e outros temas importantes, como doenças sexualmente transmissíveis, possam ser debatidos. Trabalhar a doença na causa é uma forma de prevenção”, finaliza o Dr. Moraes Júnior.

Novembro Azul

Disseminar informação sobre fatores de risco e, principalmente, colocar o preconceito masculino sobre a prevenção do câncer de próstata são os objetivos dessa campanha mundial.

O câncer de próstata é o principal tumor que acomete os homens e segunda principal causa de morte por câncer no Brasil. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram que o câncer de próstata está atrás apenas dos tumores de pele não melanoma e acontece quando as células deste órgão começam a se multiplicar de forma desordenada.

Na fase inicial, não apresenta sintomas, mas em estágio avançado, provoca dor óssea, sangue na urina ou no sêmen, dores ao urinar e vontade de urinar com frequência. Por ano, são descobertos 69 mil novos casos, um a cada 7,6 minutos. Em 2011, o câncer de próstata foi responsável por 13.129 mortes.

“Por ser assintomático, muitas vezes, descobre-se a doença de forma tardia. Em cerca de 90% dos casos, a doença já está disseminada. O recomendado é que, a partir dos 50 anos de idade, todo homem faça o exame de toque retal e o de sangue Antígeno Prostático Específico (PSA); e quando houver histórico de câncer de próstata na família, a prevenção deve começar bem antes, pelo menos a partir dos 40 anos de idade”, indica o membro da Comissão de Comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Dr. Alfredo Canalini.

O preconceito em relação ao exame de próstata afasta muitos homens da prevenção e da cura, por isso, em 2008, foi criada, na Austrália, a campanha Novembro Azul. Espalhada pelo mundo, a campanha tem foco principal no mês em que se celebra o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata (17 de novembro) e, no Brasil, vem colhendo frutos positivos.

O Instituto Lado a Lado pela Vida realiza, pelo quarto ano consecutivo, o Novembro Azul em todo o Brasil; em 2014, a campanha atingiu números consideráveis, impactando 75 milhões de brasileiros.

“Notamos ainda uma cultura que insiste que o homem não tempo de ir ao médico e só procura atendimento em situações onde a mulher o engaja para tal. Com esse cenário, observamos que a mulher é quem motiva e leva o homem ao médico, seja seu esposo, pai, irmão, parente ou amigo”, diz a presidente do Instituto, Marlene Oliveira. Para ela, campanhas como essa ajudam a mudar esse cenário. “Sempre usamos personagens reais, que passaram pelo câncer de próstata. Esses homens nos ajudam a mostrar que é preciso vencer o preconceito e fazer a prevenção, garantindo assim mais saúde e qualidade de vida para o público masculino”, comenta.

Quando diagnosticada no início, a chance de cura da doença chega a 90%, porém, em estágios avançados, pode ser potencialmente fatal, daí a importância da conscientização sobre os riscos da doença e, principalmente, da prevenção. “Há 30 anos, era muito mais difícil falar sobre isso e, principalmente, sobre o exame. Hoje, está mudando e é preciso ter consciência de que a prevenção é sempre o caminho menos dolorido e mais barato também. Para cada R$ 1 gasto em prevenção, economiza-se R$ 5 em tratamento. O diagnóstico precoce é fundamental para aumentar as chances e a possibilidade de cura e até mesmo o controle doença”, finaliza o Dr. Canalini.

Autor: Adriana Bruno

Alta do dólar

Edição 276 - 2015-11-01 Alta do dólar

Essa matéria faz parte da Edição 276 da Revista Guia da Farmácia.

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