Vai pagar como?

O consumidor está com o bolso cada vez mais apertado diante da crise. ele tem mudado seus hábitos na hora de efetuar o pagamento das compras. Com isso, os cartões estão cada vez mais presentes no dia a dia do brasileiro  

Cartão de crédito, de débito, dinheiro ou cheque. As opções que o consumidor tem para pagar as despesas são variadas, mas diante do cenário de dificuldade enfrentado por todos os setores da economia brasileira, o varejista já percebeu que a preferência por um determinado tipo de pagamento está se destacando.

De acordo com um levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), em relação ao 1º semestre de 2015, os cartões de crédito e débito já representam 28,1% do consumo das famílias.

Os brasileiros movimentaram R$ 509 bilhões em compras com cartões de crédito e débito nesse período, o que representa um crescimento de 10,2% em relação ao mesmo período de 2014. As compras com cartões de crédito somaram R$ 324 bilhões (alta de 10,1%) e as com cartões de débito, R$ 185 bilhões (alta de 10,5%).

O tíquete médio das compras com cartões diminui a partir do momento em que o consumidor realiza mais compras, como destaca o diretor executivo da Abecs, Ricardo Vieira. Segundo ele, esse processo é fruto da inclusão financeira e da substituição de dinheiro e cheque por meios eletrônicos de pagamento. No primeiro semestre deste ano, o gasto médio foi de R$ 39,7* em transações com cartão de débito e de R$ 77,9* com cartão de crédito. No mesmo período de 2008, esses valores eram de R$ 46,8* e R$ 89,8*, respectivamente.

Juntos, os cartões de crédito e débito registraram um total de 5,5 bilhões de transações no primeiro semestre, alta de 10,4%, como destaca Vieira. O crescimento em cada modalidade foi de 8,9% em cartões de crédito e 11,8% em cartões de débito, totalizando, respectivamente, R$ 2,6 bilhões e R$ 2,9 bilhões de transações no período.

Cartão no centro das atenções

O pagamento com o cartão, seja de débito ou crédito, atualmente, tem sido o preferido pelo consumidor, como destaca o diretor do PagSeguro, Juan Fuentes. “Notadamente, a tendência mais forte é a do dinheiro de plástico (débito e crédito). No ano passado, dependendo da faixa de renda, o débito era mais utilizado. Neste momento de crise, o crédito anda sendo a opção mais usada. O volume em dinheiro começa a desaparecer.”

Hábito esse também sentido pelo farmacêutico e administrador de empresas, diretor da Drogaria Santana, conselheiro da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar) e consultor no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento e Educação Continuada (Cpdec), Rogério Lopes Júnior, que destacou que a maioria dos consumidores da sua farmácia opta pelo pagamento com cartão. “Houve uma pequena migração do usuário na opção crédito, para o parcelado, algo em torno de 7%.”

Para a opção de crédito, mais utilizada neste período, Fuentes destaca que o consumidor não arrisca muito na hora de parcelar, usando, no máximo, três prestações para as compras realizadas nas farmácias e drogarias.

De acordo com o farmacêutico Lopes Júnior, a opção crédito (60%) tem ligeira preferência sobre débito (40%) no seu estabelecimento. “A vantagem do parcelamento é que, numa ‘compra’ não programada, existe a opção de dividir em alguns meses, a desvantagem dessa modalidade é não pagar o cartão na data da fatura e pagar altas taxas de juros.”

O parcelamento sem juros do cartão de crédito foi responsável por 50,1% do volume de crédito concedido (recursos livres) para financiar o consumo de produtos e serviços no Brasil – o que representou R$ 169,3 bilhões, de acordo com Vieira, da Abecs. Isso significa que, além de ser um meio de pagamento seguro e eficiente, o cartão de crédito possibilita maior inclusão financeira da população e garante o financiamento do comércio brasileiro com o parcelamento sem juros, modalidade amplamente preferida pelos consumidores segundo o Datafolha. “Se não houvesse essa modalidade, 72% dos consumidores teriam feito menos compras”, avalia Vieira.

Vantagens e desvantagens de cada tipo

Os cartões de crédito e de débito, primordialmente, já alcançaram um alto patamar de importância para o consumo e a economia do Brasil. As pessoas já não saem de casa sem esse instrumento, por muitos motivos: praticidade, segurança, conveniência, facilidade e prazo para pagamento, programas de recompensa, parcelamento com e sem juros, entre outros.

Para o varejista, receber o pagamento em dinheiro ainda é a melhor saída, já que não existe nenhuma taxa, como destaca o consultor do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, de São Paulo (Sebrae-SP), Mário Valsechi. Porém, o consultor destaca que, apesar das taxas, o cartão tem menos risco de calote por parte do consumidor. “O varejista precisa ter o controle dos gastos e também calcular as taxas do cartão, que diferem de crédito para débito, sendo que, em todos os casos, ele recebe à vista o valor da administradora do cartão.”

Além de não haver inadimplência, o estabelecimento também evita o acúmulo de notas e cheques no caixa, já que as transações com cartões são eletrônicas e diminuem, assim, o risco e os custos de assalto, roubo, falsificação, armazenamento e logística.

Para Fuentes, da PagSeguro, enquanto a economia estava boa, a opção crédito aumentava o poder de compra do shopper. “Com a crise, esse cenário mudou, hoje é uma facilidade oferecer o parcelamento da compra”. O cartão de crédito, em especial, é atualmente um dos principais aliados do consumidor na inclusão financeira e no acesso ao mercado de consumo, aponta Vieira, da Abecs. Ele tem sido um dos pilares do movimento econômico anticíclico, com suas centenas de bilhões de reais de limites disponibilizados aos portadores dos milhões de cartões de crédito no Brasil.

“Com ele, as pessoas antecipam e parcelam suas compras, planejam e acompanham os gastos do mês por meio da fatura, reúnem todas as despesas em uma única data de pagamento e ainda acumulam pontos que podem ser trocados por recompensas”, diz Vieira. Com o uso dos cartões, não há a necessidade de sacar e andar com dinheiro no bolso, o que é muito mais seguro e prático para o consumidor. Além disso, eles permitem ao usuário fazer compras pela internet.

Para Lopes Junior, o estabelecimento apoia que o consumidor pague com cartão. “No débito, além de pagar uma taxa de administração um pouco menor, há a liquidez em alguns dias e é mais seguro.”E os benefícios do cartão vão além: os meios eletrônicos de pagamento geram impactos positivos ainda mais abrangentes na sociedade, contribuindo significativamente para o aquecimento da economia e a formalização da atividade comercial, completa Vieira.

Tipos de máquinas e bandeiras

Há hoje no mercado diversas opções de equipamentos de aceitação de cartões oferecidas pelas credenciadoras (não bandeiras), que possuem características diferentes entre si – banda larga, GPRS (General Packet Radio Services, em inglês ou Serviços Gerais de Pacote por Rádio, em português), mobile –, com custos igualmente distintos.

As credenciadoras têm investido bastante em inovação e expansão da rede de aceitação nos últimos anos. No 1º semestre deste ano, o número de máquinas de cartão (POS, do inglês Point Of Sale) espalhadas pelo Brasil chegou a 4,4 milhões. No estabelecimento do diretor da Drogaria Santana, algumas lojas utilizam dois ou três equipamentos. “Temos parceria (fazemos parte da Febrafar) de longo tempo com a Rede. Outras lojas utilizam a tecnologia Transferência Eletrônica de Fundos (TEF), que é um equipamento por terminal de caixa e que aceita todas as bandeiras de cartão.”

No mercado, existem diversos tipos de máquinas, como destaca Fuentes. O modelo do aluguel da máquina existe no mundo todo, porém, para o pequeno varejista, como o foco é a empresa, ele não tem condições de alugar uma máquina. “Não é sempre que ele pode dispor de R$ 60, R$ 150 da máquina portátil. Esse valor para o pequeno empresário é pesado. Com quatro meses de aluguel desta, ele pode comprar uma, que dura em média de dois a três anos.”

Para obter informações sobre aspectos comerciais, tais como preço de aluguel e taxa de desconto das transações, o estabelecimento comercial deve procurar uma empresa credenciadora, que fornece a máquina para captura de transações, todo o apoio técnico necessário e outros serviços. “O investimento depende de negociação com a própria credenciadora”, finaliza Vieira. 


Autor: Vivian Lourenço

Alta do dólar

Edição 276 - 2015-11-01 Alta do dólar

Essa matéria faz parte da Edição 276 da Revista Guia da Farmácia.

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