Ousadia e tecnologia

Grupo Interplayers anuncia aquisição da Seven PDV e lança novo aplicativo de buscas por farmácias no Brasil

Responsável por conectar a indústria farmacêutica com os distribuidores de todo o Brasil e, consequentemente, os varejistas do setor, o Grupo Interplayers anunciou, no último mês de outubro, a aquisição da empresa Seven PDV, líder do segmento de gerenciamento de programas de fidelidade no País, com mais de dez milhões de usuários no território nacional. 

O valor do negócio é mantido a sete chaves pelos acionistas e pelo presidente do grupo, Arnaldo Sá, mas sabe-se que a Seven chega para implementar o portfólio de serviços da Interplayers, que conta atualmente com seis empresas do setor de soluções e serviços do setor farmacêutico.

Com apenas três funcionários, em 2001, a empresa começou prestando consultoria de modelos farmacêuticos na virada do real e na época da introdução dos genéricos no País. Porém, hoje, conta com mais de 700 funcionários e um portfólio de serviços bastante amplo. Eles englobam não apenas soluções tecnológicas e de logísticas para varejistas e distribuidores, mas também serviços de ações de marketing e merchandising nos pontos de venda (PDVs) e, agora, gerenciamento de programas de fidelidade.

A cada dois anos, as empresas do Grupo movimentam mais de R$ 20 bilhões em vendas, conectando em torno de 59 mil farmácias de todo o País com 351 centros de distribuição espalhados pelo território nacional.
Junto com a aquisição da Seven PDV, o Grupo Interplayers apresentou ao mercado um novo aplicativo de celular chamado GoPharma, que promete encurtar a distância dos compradores com os PDVs do País, efetivando as compras e integrando toda a cadeia de serviços das empresas pertencentes à joint venture.

Sobre o novo aplicativo e o passo ousado da empresa na aquisição da Seven PDV neste momento de crise no País, o Guia da Farmácia foi ouvir pessoalmente o presidente do grupo, Arnaldo Sá.

Guia da Farmácia De que forma a compra da Seven PDV vai ajudar no trabalho que o Grupo Interplayers já desenvolve na área de tecnologia e serviços prestados ao setor?

Arnaldo Sá • A Seven PDV é uma grande aquisição. Ela dará continuidade a um trabalho que já estamos desenvolvendo há muitos anos. É uma empresa que entra como uma unidade de negócio do Grupo que fecha o que chamamos de looping (círculo, cadeia, em inglês). Nosso trabalho inicial começou pela cadeia fármaco. Ou seja, integrando a indústria, o distribuidor e o varejo, para que ambos tivessem maior acesso aos produtos vendidos aos consumidores finais. Nós trabalhávamos ruptura de produtos, melhora de acesso das ações da indústria no PDV, utilização de infraestrutura e distribuidores sempre como parceiros. Porém, após a entrada de um fundo de investimentos entre nós, entendemos que o trabalho seria mais efetivo e replicado em outras cadeias de valor, como na hospitalar, veterinária, vacinas e oncologia. Isso significa que, para integrar mais efetivamente as estratégias da indústria até a ponta final, faltava nesse círculo incluir o paciente e o consumidor. Por isso, começamos as conversas com a Seven PDV para incorporar o serviço deles ao nosso portfólio, fechando finalmente essa cadeia e incluindo o shopper nas estratégias de ação e planos.


Guia
A expertise do Grupo Interplayers sempre foi de oferecer plataformas tecnológicas e soluções de softwares para ajudar no gerenciamento do setor. Trabalhar com o shopper diretamente não é um passo arriscado?

• Sem dúvida. Mas por isso que nós optamos pela Seven PDV. A empresa é a líder do setor no gerenciamento desse tipo de serviço. Eles entendem muito os hábitos e intenções de compra dos consumidores brasileiros. Então, é uma das aquisições mais importantes que fizemos nesses últimos tempos. A entrada deles só melhora as nossas soluções. Nós desenhamos um modelo de negócio novo, que habitualmente se chama de marketplace no mundo inteiro. A ideia é reunir num mesmo local ou portfólio todos os serviços de um segmento.


Guia
Como se dá esse plano de marketplace que vocês realizam?

• É um grande shopping virtual de serviços com várias empresas, que abrangem os vários braços de um mesmo segmento ou setor. São serviços, plataformas e soluções que temos, que montam um modelo de distribuição com maior efetividade para as estratégias da indústria farmacêutica, junto a distribuidores e varejistas. A proposta é elevar a efetividade das vendas e também garantir satisfação do shopper e do varejista. A Seven faz uma parte importante nesse trabalho, dando visibilidade, inclusive, à nossa mais nova solução, que é o GoPharma, o aplicativo que vai facilitar o acesso do comprador às lojas integradas no sistema.


Guia
A ideia desse aplicativo é de fato interessante. Mas em que o GoPharma se diferencia de outros aplicativos como Foursquare, por exemplo?

• É um aplicativo em que o comprador localiza as farmácias que estão mais próximas a ele, por meio de um sistema de georeferenciamento. Mas não só isso. A ideia é que ele evolua também para serviços. Ou seja, não vai só usar o rastreador, que mostra apenas onde estão as farmácias mais próximas. É preciso mostrar quais são as farmácias 24 horas, por exemplo. Porque o consumidor precisa desse serviço quando está numa emergência, fora do horário comercial, de madrugada. No fim de semana em que a família vai para o interior, por exemplo, é preciso saber as farmácias que estão de plantão naquele dia. Também é preciso agregar serviços de assistência farmacêutica, de vacinas, delivery, etc.


Guia
Por que essa diferenciação?

• O usuário tem de saber a localização da farmácia, depois um segundo filtro de localização de funcionamento, seguido de serviços que o varejista oferece naquela loja. O sujeito que precisa de um curativo, por exemplo, tem de saber que, naquele horário, tal farmácia, em tal endereço está funcionando e tem o serviço de que ele precisa. A ideia, inclusive, é que os programas da Seven PDV também estejam aportados no GoPharma, para melhorar a busca do paciente pelo medicamento de que ele necessita e usar o programa de fidelidade de que ele é sócio.


Guia
Mas um aplicativo para ser popular é preciso massificação. Haverá uma estratégia de marketing para popularizar o uso desse aplicativo entre os brasileiros?

• Os primeiros passos são por meio dos nossos parceiros. Nós, hoje, temos uma estratégia de estar nas redes sociais, num primeiro momento entendendo os grupos de pacientes e shoppers que fazem uso desse tipo de ferramenta. Os estímulos vão se dar a partir do momento em que formos agregando valor ao aplicativo.


Guia
Então a aquisição da Seven PDV foi pensada nesse sentido?

• Exato. É uma forma do paciente e cliente localizarem os programas dos quais eles fazem parte. Hoje, é na tentativa e erro, de entrar na farmácia e perguntar se ali aceita o cartão da Novartis ou da Pfizer, por exemplo. É uma coisa relativamente nova, porque as empresas buscam a gestão sempre para dentro delas, melhorando os próprios processos. Mas as relações, sejam elas com os próprios fornecedores ou com os clientes, sempre precisam ter prioridade.


Guia
Em países, como Estados Unidos e Europa, o Foursquare foi acusado por alguns internautas mais atentos de favorecer nas buscas apenas redes de supermercados, farmácias ou restaurantes que aplicam dinheiro na empresa. Vocês tomaram esses cuidados?

• Não interferimos nas estratégias de nenhum membro da cadeia sob o ponto de vista comercial. Nós apenas facilitamos a integração entre os diversos canais. Nós nos posicionamos sempre como uma empresa imparcial e neutra, que tem expertise importante de distribuição, mas que agora está somando novas experiências.


Guia
O que os donos de farmácias ganham com isso no Brasil?

• Fazendo vendas e negócios, claro. A Seven é nossa entrada importante de fidelização, acesso e adesão aos tratamentos. Quem vai nos ajudar muito nessa evolução, seja do GoPharma, seja da Seven, são os nossos parceiros. Os quase 59 mil varejistas que já fazem negócios por meio de nossas ferramentas, por exemplo. Se ajudarmos os pacientes a encontrar as farmácias que têm aqueles programas, também estamos dando uma facilidade para que aquele paciente tenha acesso e compre. Isso tudo melhora custos, acessibilidade, faturamento e vendas para a cadeia inteira.


Guia
Quantos varejistas já estão participando do GoPharma?

• Nós temos integradas, hoje, conosco, fazendo algum tipo de negócio com as nossas ferramentas, em torno de 58 mil farmácias. São cerca de 90% de todos os municípios brasileiros cobertos e integrados de alguma forma por alguma solução nossa de tecnologia. Desse total, pelo menos 33 mil farmácias já estão cadastradas no GoPharma.


Guia
O que o dono de farmácia precisa para estar no GoPharma e aparecer nas buscas do aplicativo? É necessário pagar algo?

• O varejista farmacêutico não precisa pagar nada. Ele só precisa ter vontade e ser colaborativo, fazendo o cadastro e informando para nós os tipos de serviços que ele oferece. Damos visibilidade à loja nessa ferramenta sem cobrar nada. É quase uma ferramenta de bem público. Quanto mais a farmácia for colaborativa e o varejista for assertivo – mantendo o cadastro atualizado de horários e serviços –, mais indicações ele vai ter nas buscas. Quanto mais informações sobre a farmácia estiverem no GoPharma, mais chance ele tem de ganhar espaço nas buscas.


Guia
O GoPharma pode evoluir para uma espécie de Buscapé, por exemplo, em que é possível fazer busca de preços e comparar a loja mais barata que vende determinado produto?

• Nós não vamos comparar preços. Entendemos que não é nossa função interferir na livre iniciativa e precificação dos varejistas. Mas a ideia para o futuro é o cliente não perder tempo procurando um produto, já que ele tem o receituário na mão. Às vezes, é um produto novo, inovador. Natural que não haja em qualquer farmácia. Um dos grandes desafios do varejo em países grandes como o Brasil é minimizar a ruptura. Nosso grande primeiro desafio é esse.


Guia
A Seven PDV já tem quase dez milhões de usuários de programas de fidelidade para administrar. Por que esses programas são importantes para a indústria farmacêutica hoje?

• A fidelização viabiliza produtos importantes da indústria farmacêutica na chegada até o paciente. A Seven viabiliza isso. O varejo e os distribuidores, até a própria indústria, não conseguiram, até hoje, fazer isso sozinhos. Às vezes, são medicamentos caros, de alto valor agregado. Boa parte até de importados, não estando em todas as farmácias. Os programas, aliás, não dizem respeito apenas aos medicamentos. Existem certos programas que dão acesso a serviços, enfermeiros e até call centers de informações para os usuários de determinados produtos.


Guia
Por que o Grupo Interplayers resolveu dar esse passo tão grande, num momento de crise como o atual?

• Afetados pela crise, acho que todos nós somos. Uns mais, outros menos. Nosso grupo está tentando enfocar a crise sob outro aspecto, o das oportunidades. Na crise, as empresas buscam soluções mais baratas que os modelos tradicionais, portanto, todas as empresas querem soluções para melhorar a produtividade, a efetividade e elevar a demanda. E o nosso propósito é aproveitar esse momento e oferecer esse barateamento de custos e efetividade para o segmento.


Guia 
Em sua opinião, onde estão os gargalos do setor farmacêutico hoje?

• Acho que é a falta de planejamento integrado. Poucos são os varejistas e distribuidores que conseguem planejar a demanda com efetividade, principalmente da parte do comerciante. E o desafio é que os elos da cadeia sincronizem isso, garantido mais vendas e ganhos para todas as partes. Como é que a indústria abastece direito o distribuidor, que por sua vez leva isso até as lojas naquele período de aquecimento de tal produto? É um gargalo em função da quantidade de farmácias no País, que não deixa de crescer, do avanço da quantidade de lançamentos de novos produtos para a saúde que chegam de fora anualmente, etc. Isso tudo é desafio de suprimento logístico-comercial.


Guia
Em sua opinião, quais as perspectivas de melhora da economia brasileira para 2016?

• Não vejo perspectivas de melhora em curto prazo. Para 2016, temo que exista uma inflação de custos que ainda não tenha chegado para nós e nem aos consumidores. Fora o dólar dos insumos, a inflação de energia e água não chegaram à cadeia inteira ainda. A dos combustíveis também não. Para 2016, acho que os desafios são ainda maiores que neste ano. E é preciso muita conversa e inovação para achar soluções privadas que ajudem as empresas, sem contar com fatores externos ou algum pacote mirabolante do governo.

 

Autor: Rodrigo Rodrigues  

 

Saúde na América Latina

Edição 277 - 2015-12-01 Saúde na América Latina

Essa matéria faz parte da Edição 277 da Revista Guia da Farmácia.

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