Cuidados redobrados no verão

Temperaturas elevadas aumentam casos de desidratação, problema que atinge, principalmente, crianças e idosos 

Dor de cabeça, boca seca e cansaço? Cuidado! O paciente pode estar desidratado. Diariamente, o organismo perde água, sais minerais e líquidos orgânicos por meio de fezes, urina e suor. A desidratação acontece quando o corpo perde mais líquidos do que o ingerido e passa a ter dificuldades para realizar suas funções rotineiras.

Conforme o último levantamento divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, em torno de 25 pessoas são internadas diariamente em hospitais públicos do estado, vítimas de desidratação. Os dados considerados foram de 2013, quando ocorreram 9.043 internações por desidratação, sendo que, do total, 37% eram crianças com menos de 14 anos de idade. Dentro desse panorama, as mais atingidas foram as crianças de 1 a 4 anos de idade, responsáveis por 1.453 das internações, mais suscetíveis a esse problema devido ao maior percentual de água corporal total e ao maior número de casos de diarreia aguda.

Segundo a diretora da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), especialista em nutrição clínica e em saúde coletiva, Daniela Fagioli Masson, a desidratação ocorre quando as perdas de água e eletrólitos, incluindo o sódio, são maiores do que a ingestão ou entrada destas substâncias no organismo. “Os principais fatores que levam à desidratação são: diarreia; vômitos; sudorese excessiva; elevação da temperatura corporal, como febre ou queimaduras; diabetes, principalmente quando há poliúria – frequência na eliminação da urina; baixa ingestão de líquidos; e exposição prolongada à luz solar.”

A desidratação pode ser classificada em três graus de gravidade: leve, moderada e grave. “O primeiro sintoma é a sede excessiva, seguida por boca, pele e mucosas secas; fraqueza; olhos fundos; ausência ou produção mínima de lágrimas; ausência de sudorese; dor de cabeça; sonolência; cansaço; aumento da frequência cardíaca; tonturas; diminuição da urina ou urina com coloração escura, densa e mais concentrada. A urina é um dos parâmetros para ver o grau de desidratação por meio de sua coloração. Já nos casos de desidratação grave, podemos observar também a perda de consciência, coma, queda da pressão arterial, convulsões, mau funcionamento dos rins e do coração, falência de órgãos ou até mesmo a morte”, revela a nutricionista Daniela Carregosa.

O verão e a desidratação

Os seres humanos perdem, em média, 2,5 litros de água por dia e com o aumento da temperatura, característico da estação mais quente do ano, os casos de desidratação tendem a aumentar, já que com o calor elevado é preciso compensar as perdas de água e sais minerais decorrentes da transpiração excessiva.

O aumento da exposição à luz solar e da sudorese favorece os casos de desidratação. “Nos dias quentes, as pessoas que utilizam a água para se refrescar, como piscina, banho de mar, etc., acabam por ingerir menos líquidos com a diminuição da sensação de calor e isto pode contribuir para a desidratação, visto que a sudorese também ocorre durante estes banhos”, explica Daniela Fagioli Masson.

A nutricionista Daniela Carregosa afirma que a ingestão de líquidos deve ser frequente, sem esperar que a sede apareça, já que isto significa que o corpo já se encontra desidratado. “As melhores opções de consumo para não sofrer com a desidratação são, em primeiro lugar, a água, seguida por sucos naturais, verduras, frutas, legumes, chás e água de coco. Ficar exposto ao sol por longos períodos também é prejudicial nas causas da desidratação, além dos riscos de desenvolver câncer de pele,” adverte.

Fatores de risco e prevenção

A sensação de sede é o principal indício de que o corpo precisa repor água, mas crianças e idosos não costumam sentir sede, ou acabam se esquecendo de beber água ou então não têm facilidade de acesso ao líquido.

“As crianças e os bebês não costumam dizer que estão com sede, por isso, acabam sendo muito afetados pelos sintomas da desidratação. Costumamos orientar os pais a oferecer água para as crianças em intervalos regulares. Já no caso dos idosos, indicamos manter um copo com água sempre ao lado, já que eles não têm tanta percepção de sede e possuem uma reserva menor de líquidos no organismo. Assim, os familiares facilitam o acesso do idoso ao líquido, lembrando sempre que deve ingeri-lo”, diz Daniela Carregosa.

De acordo com a nutricionista especialista em nutrição esportiva, Stephanie Peach, as pessoas mais acometidas pelo problema são os bebês, as crianças, os idosos e os atletas de resistência.

“A desidratação também pode ocorrer em pessoas com doenças crônicas, como diabetes e insuficiência cardíaca; e que vivam em grandes altitudes ou trabalhem e se exercitem em ambientes quentes e úmidos”, explica a nutricionista, que ainda adverte sobre atividades físicas em dias quentes, que exigem um nível adequado de ingestão de líquidos antes, durante e depois dos exercícios, para repor água e sais minerais perdidos em excesso.

Beber cerca de dois litros de água por dia, usar roupas leves, não se expor ao sol em horários inadequados, não praticar exercícios físicos nos horários mais quentes, manter as mãos bem higienizadas e lavar bem os alimentos são alguns dos cuidados para prevenir casos de desidratação.

“O correto é evitar a prática de atividade física com exposição solar das 10h às 15h, pois é o período de maior incidência de raios ultravioleta e o mais quente. Evitar o consumo de álcool durante os dias quentes também é recomendável, pois essa substância aumenta a perda de líquidos pela urina”, observa Stephanie.

Tratando o problema

Normalmente, cerca de 70% do peso corporal é atribuído à presença de água no organismo. Para tratar a desidratação, os acometidos contam com várias estratégias. Em estágio leve, a ingestão de água é suficiente para acabar com o problema, mas em situações mais graves, são necessários outros artifícios.

“Em casos leves ou moderados, é necessária a ingestão de água em pequenas quantidades e intervalos curtos, estar em um ambiente com temperatura adequada para evitar a perda de água pelo suor, fazer uso de soro oral, podendo ser o industrializado ou o caseiro (um litro de água filtrada, uma colher rasa de chá de sal e duas colheres rasas de açúcar), e beber água de coco”, comenta Daniela Carregosa, que completa afirmando que, em casos mais graves, se faz necessária a administração de hidratação intravenosa.

De acordo com Daniela Fagioli Masson, “a utilização dos Sais de Reidratação Oral (SRO) promove a reposição de sódio, cloreto, potássio, citrato e glicose e, em alguns casos, zinco, por meio da ingestão oral e a absorção normal do organismo, contribuindo na reidratação. Com relação aos isotônicos, o consumo está indicado para repor as perdas de mais de 2% do peso do indivíduo por sudorese ou então após exercícios intensos por mais de uma hora. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ‘este produto não deve ser consumido por crianças, gestantes, idosos e portadores de enfermidades’. As bebidas isotônicas são elaboradas para a perda intensa de eletrólitos de atletas, isto é, nem mesmo os praticantes de atividade física podem consumi-las, exceto se apresentarem a perda de peso descrita. Sendo assim, só devem ser consumidos após avaliação médica e o uso indiscriminado deve ser evitado”.

Como soros e isotônicos auxiliam na reidratação?

Segundo a nutricionista especialista em nutrição esportiva, Stephanie Peach, o soro equilibra o organismo, já que a glicose é uma fonte energética que auxilia a absorção do sal, cuja composição atrai as moléculas de água, fazendo com que elas se mantenham dentro dos vasos sanguíneos.

O sal e o açúcar funcionam como portas de entrada da água nas células do organismo e, sem a mistura, a ingestão de água pura não hidrata, já que neste caso o corpo não tem forças para reter o líquido.

O Pedialyte®, da Abbott, contém zinco, que ajuda a reduzir quadros de diarreia. “Recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para tratamento da diarreia aguda, o zinco ajuda a reduzir a duração, severidade e o número de episódios da diarreia, que desidratam o paciente, além de fortalecer o sistema imunológico nesses casos. O Pedialyte® Zinco repõe rapidamente fluidos, zinco e eletrólitos (sódio, potássio, cloro e outros minerais) perdidos durante a diarreia e o vômito, para prevenir e tratar a desidratação, em duas composições: Pedialyte® 45 Zinco, indicado para prevenir a desidratação e manter a hidratação após a fase de reidratação; e Pedialyte® 60 Zinco, indicado para repor as perdas acumuladas de água e eletrólitos e manter a hidratação, também na fase de reidratação”, explica a gerente científica da divisão nutricional da Abbott, Patrícia Ruffo.

Outra opção disponível no mercado é o Floralyte®, da Merck, composto por cloreto de sódio, citrato de potássio mono-hidratado, citrato de sódio di-hidratado e glicose anidra. “Floralyte® é um soro de hidratação oral indicado para prevenir a desidratação ou manter a hidratação após a fase de reidratação, em quadros de diarreia aguda de qualquer causa, tanto em crianças como em adultos. Seu uso, com quantidades adequadas de água, sais minerais e glicose deve sempre ser orientado para pacientes com desidratação leve ou moderada. A combinação de sais com glicose vai atuar estimulando a absorção de água e eletrólitos a partir do trato gastrointestinal”, revela a gerente médica da Merck, Dra. Renata Prioli.

De acordo com Stephanie, as bebidas isotônicas também possuem em sua composição uma concentração de moléculas parecida com os fluidos do corpo humano, podendo ser incorporadas no tratamento e transferidas para a corrente sanguínea, tornando rápida a absorção da água e dos sais minerais, que são substâncias que se perdem no suor. Os isotônicos podem ser usados em casos de desidratação, mas apenas com recomendação médica.

Composto por sais minerais, água e carboidratos, o Gatorade é um dos isotônicos mais presentes no mercado e é indicado para repor a energia perdida durante o exercício físico, melhorar o desempenho e disposição ao longo da prática esportiva, também podendo ser indicado na reidratação.

“Cada pessoa perde uma quantidade diferente de sais minerais e líquidos e possui uma exigência energética específica, mas estima-se uma quantidade de 5 a 7 mL por quilo de peso de líquidos antes; cerca de 250 mL a cada 20 minutos de prática esportiva; e depois, a quantidade necessária para repor o líquido perdido, ou seja, deve ser ingerido para repor os líquidos no organismo, fazendo a conta da diferença de peso perdido mais a quantidade em mL do que foi consumido. O ideal é saber sua necessidade de líquidos e, para isso, deve-se saber o peso de antes e depois do exercício e somar a perda à quantidade de líquido ingerido”, revela o gerente de marketing da Gatorade, José Freitas

Autor: Renata Martorelli

Especial Farmacêutico

Edição 278 - 2016-01-01 Especial Farmacêutico

Essa matéria faz parte da Edição 278 da Revista Guia da Farmácia.

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