Doenças da estação

Os problemas que têm sua incidência aumentada nos meses mais frios do ano merecem atenção, pois são vilões que abalam a produtividade de muitos brasileiros 

Quando os termômetros começam a marcar temperaturas mais baixas, as roupas grossas saem do armário, as botas protegem os pés e as bebidas quentes aquecem o corpo. Mas nem só de aconchego é feita a época de outono e inverno. À medida que o clima fica mais frio e seco, começam a surgir as doenças típicas dessas estações, principalmente a gripe e o resfriado. 

O pico de registro sazonal dessas enfermidades ocorre entre os meses de abril e setembro, no hemisfério sul, e de dezembro a março, no hemisfério norte. “Durante esses períodos, a chance de um paciente apresentando febre e tosse estar infectado é de 87%”, destaca a infectologista e professora do setor de viroses respiratórias da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Dra. Nancy Bellei.

A incidência dessas doenças cresce nessa época do ano, devido alguns hábitos relacionados ao frio. Ambientes fechados, sem ventilação, apresentando aglomerados de pessoas contaminadas, com as outras não contaminadas, favorecem a proliferação de doenças. 

O problema é global. Os vírus causadores das gripes e resfriados circulam, anualmente, no mundo inteiro, de forma mutante, provocando infecção respiratória com diferentes níveis de gravidade, em todas as faixas etárias – entre 5% e 10% dos casos são detectados em adultos e 20% a 30% em crianças, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

A princípio, gripes e resfriados são tratados como algo corriqueiro, mas merecem atenção e tratamento adequado. Somente em 2014, a gripe foi responsável por 326 óbitos no Brasil. Em todo o mundo, estima-se que aconteçam cinco milhões de casos graves por ano, com 250 mil a 500 mil mortes.

A situação é agravada nos quadros de gripe, em que os sintomas são intensos desde o início. Isto porque, apesar de gripes e resfriados serem muito confundidos pela semelhança dos sintomas, são doenças distintas, causadas por vírus diferentes. Ambas atacam o sistema respiratório das pessoas, mas o vírus da gripe é o influenza (A e B) e o do resfriado comum é o rinovírus.

A principal diferença é que o vírus da gripe atinge todo o sistema respiratório, como traqueia, brônquios e, eventualmente, os pulmões, demonstrando grande intensidade e abrangência no organismo. Devido à sua intensidade, uma gripe mal tratada pode levar a complicações graves, podendo, inclusive, resultar em morte.

A doença pode ser potencialmente grave para os pacientes dos grupos de risco: crianças menores de cinco anos de idade, gestantes, idosos e pacientes crônicos, como os diabéticos, cardiopatas e asmáticos. 

“As complicações mais frequentes, diretamente relacionadas ao vírus influenza A ou B, são a bronquite, a pneumonia e a otite média. Qualquer pessoa é suscetível à infecção e a eventuais complicações, porém, em pacientes de risco, a exacerbação da doença de base e a pneumonia viral ou bacteriana secundária podem levar à hospitalização e ao óbito”, explica a Dra. Nancy.

Fácil transmissão 

Os vírus são diferentes, mas o contágio ocorre de maneira semelhante. Tanto o resfriado quanto à gripe são facilmente transmitidos de pessoa para pessoa e se disseminam rapidamente em ambientes fechados, como escolas, escritórios, transportes públicos e hospitais. Eventos de massa, que reúnem uma enorme quantidade de pessoas, como shows e jogos de futebol, também apresentam risco maior de contágio. 

Isso porque, ao tossir, espirrar ou falar, são expelidas gotículas pela boca e pelo nariz, que podem alcançar até 1,8 metro de distância. A transmissão também ocorre por meio do contato das mãos ou objetos contaminados por secreções respiratórias de pessoas infectadas. Estudos recentes revelaram que os vírus são capazes de sobreviver em diferentes superfícies (madeira, plástico, aço e tecidos) por mais de 24 horas.

O período de incubação do vírus da gripe é de, em média, dois dias. Um adulto saudável elimina o vírus a partir de um dia antes de desenvolver a doença, até cinco a sete dias depois de adoecer. Ou seja, antes mesmo de sentir os sintomas, a pessoa já é capaz de transmitir a doença. Com as crianças, é preciso ter ainda mais cautela, já que, dependendo da carga do vírus, elas podem transmiti-lo por até duas semanas. 

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O que são

Doenças causadas por vírus que circulam, no mundo inteiro, de forma mutante, provocando infecção respiratória com diferentes níveis de gravidade.

Diferenças

Ambas as doenças atacam o sistema respiratório das pessoas, mas o vírus da gripe é o influenza (A e B) e o do resfriado comum é o rinovírus.

A principal diferença é que o vírus da gripe atinge todo o sistema respiratório, como traqueia, brônquios e, eventualmente, os pulmões, demonstrando grande intensidade e abrangência no organismo. 

Como ocorre a transmissão? 

Gotículas que podem alcançar até 1,8 metro de distância são expelidas pela boca e pelo nariz quando o indivíduo fala, espirra ou tosse. A transmissão também ocorre por meio do contato das mãos ou de objetos contaminados por secreções respiratórias de pessoas infectadas.

Sintomas

Gripe

• Obstrução e secreção nasal; 

• Tosse seca ou produtiva; 

• Febre, muitas vezes maior que 38ºC, dura cerca de três dias; 

• Dores musculares, de garganta e/ou de cabeça podem estar presentes; 

• Pode apresentar complicações, como: otite, sinusite, traqueobronquite ou pneumonias. 

Resfriado

• Congestão e secreção nasal; 

• Pouca tosse; 

• Febre baixa ou subfebril (menor que 38ºC); 

• Pode causar dores de cabeça, garganta e musculares associadas; 

• Pode apresentar complicações como as da gripe, mas são menos frequentes. 

Caso o paciente já esteja infectado, como reduzir a transmissão? 

1. Cobrir o nariz e a boca sempre que for tossir ou espirrar;

2. Tossir ou espirrar no antebraço. Evitar cobrir o nariz e a boca com as mãos, que são veículos de contaminação;

3. Para manter a higiene, usar, de preferência, lenços de papel e descartá-los após o uso; 

4. Lavar as mãos depois de tossir ou espirrar. Usar água e sabão e secar as mãos com papel toalha; 

5. À mesa, quando a tosse ou o espirro aparecerem, virar-se de lado, baixar a cabeça e levar o guardanapo à boca. 

Repasse a informação 

A vacinação pode reduzir em 32% a 45% o número de hospitalizações por pneumonia – uma das complicações que a gripe pode causar – e em 39% a 75% os índices de mortalidade.

Dez dicas para que a população mantenha a saúde em dia durante o outono e o inverno

1. Manter uma alimentação saudável e equilibrada. A não ser que exista indicação médica, não fazer uso de vitaminas por conta própria. É melhor e mais barato investir na alimentação correta.

2. Hidratação vigorosa com bebidas saudáveis é fundamental.

3. Praticar atividade física regular.

4. Descansar e ter boas noites de sono. Em conjunto com as medidas anteriores, este hábito também fortalecerá o sistema de defesa do organismo.

5. Se já for portador de alguma doença, principalmente as que afetam o pulmão, coração e a diabetes, é importante mantê-las sob controle e com acompanhamento médico regular.

6. Checar a carteirinha de vacinação. Ela deve estar sempre em dia. Todo ano há campanha de vacinação contra a gripe. É recomendado procurar o posto de saúde mais perto e conferir se é possível recebê-la.

7. Reconhecer os primeiros sintomas de gripe ou resfriado, procurar pelo médico rapidamente para que seja iniciado o tratamento adequado.

8. Lavar sempre as mãos! É a medida mais eficaz para evitar a transmissão dessas doenças.

9. Ao tossir ou espirrar, proteger a boca e o nariz com as mãos ou lenço. Depois, lavá-las! Evitar uso conjunto de copos, talheres e toalhas.

10. Evitar ambientes fechados e aglomerações, muito comuns em dias frios. Deixar a casa e o ambiente de trabalho sempre arejados.

Sintomas e consequências

As duas doenças causam obstrução nasal, coriza, tosse e espirros, porém, no caso da gripe, os sintomas costumam ser mais severos. “Febre alta, dor no corpo, indisposição geral, inapetência (falta de apetite) são algumas das consequências”, enumera a coordenadora do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), Dra. Rosana Richtmann.

No entanto, não são apenas desgastes físicos que os vírus causam. Diversas pesquisas demonstram o impacto financeiro que a gripe e o resfriado são capazes de causar, devido à alta incidência em todo o mundo. Como de 5% a 10% dos infectados são adultos, uma fatia importante da classe trabalhadora ativa tem a produtividade no trabalho comprometida. Nos Estados Unidos, por exemplo, 111 milhões de dias de expediente são perdidos, anualmente, gerando um prejuízo de sete mil dólares com afastamentos causados pelas doenças. 

Apesar do número de crianças afetadas ser maior que o de adultos, os custos com a população mais velha costuma ser mais alto. Um estudo realizado na França, durante o ano de 2014, mostrou que eram gastos 126 euros por paciente, com média de 6,5 dias de faltas no trabalho. Já o gasto com crianças foi de 70 euros. 

No Brasil, a prevalência de gripes e resfriados é tanta que um levantamento divulgado, em 2015, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que 17,8% dos brasileiros se ausentaram do trabalho devido a estes episódios. Outro dado, desta vez do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (MS) de 2014, mostra que a região Sudeste registra o maior número de casos – em torno de 47,5% do total do País, com predomínio do vírus tipo A. 


Tratamento correto
 

Para o tratamento do resfriado, são usados medicamentos sintomáticos, que diminuem a tosse, e descongestionantes nasais. Já na gripe, analgésicos e antipiréticos agem no organismo controlando inflamação, dor e febre, atuando como substâncias mediadoras destes sintomas, que causam o processo inflamatório. Além disso, os medicamentos presentes nos antigripais atuam aliviando a congestão nasal, provocando uma diminuição do calibre das artérias que irrigam o nariz (o que provoca a congestão). 

“Outros medicamentos contêm substâncias antialérgicas, que controlam a liberação de histamina, substância naturalmente existente no organismo, mas que, durante o processo inflamatório, é liberada em maior quantidade, provocando sintomas comuns das gripes e dos resfriados”, detalha o médico da linha de antigripais da Hypermarcas, Dr. Márcio de Queiroz Elias. 

Além do tratamento medicamentoso, a Dra. Rosana, da SBI, recomenda que, neste período, as pessoas evitem contato direto com outros indivíduos doentes, higienizem frequentemente as mãos (com álcool gel ou água e sabão), usem lenços de papel para tossir e, principalmente no caso da gripe, se imunizem com a vacina.

Apesar do tratamento medicamentoso ser eficaz, vacina é a melhor prevenção. Segundo o MS, a vacinação pode reduzir em 32% a 45% o número de hospitalizações por pneumonia – uma das complicações que a gripe pode causar – e em 39% a 75% os índices de mortalidade.

De acordo com a pneumologista Dra. Samia Rached, a importância da vacinação se deve ao fato de que existem vários vírus respiratórios que podem causar gripes e resfriados e que sofrem mutações a todo tempo. 

“A vacina antigripal, fabricada a partir dos principais tipos de vírus influenza, é muito eficaz na prevenção da gripe e, principalmente, da evolução desta para pneumonia na maioria das pessoas. Apesar de não prevenir contra novos vírus ou mutantes, a vacina é um eficiente protetor e deve ser administrada principalmente naquelas pessoas com fatores de risco mais evidentes. A cada episódio de resfriado ou gripe, ganha-se imunidade para aquele vírus causador, mas é possível sempre haver novos episódios pela diversidade de vírus existentes”, informa.

Autor: Flávia Corbó e Tassia Rocha 

Reajuste dos medicamentos

Edição 281 - 2016-04-01 Reajuste dos medicamentos

Essa matéria faz parte da Edição 281 da Revista Guia da Farmácia.

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