O exemplo vem de cima

Pesquisas ao redor do mundo indicam que o comportamento ruim dos chefes prejudica a saúde financeira das empresas e, principalmente, dos empregados. Saiba como fugir dessa cilada 

A influência dos chefes no desempenho de uma equipe e na produtividade dos empregados é um dos assuntos mais em voga ao redor do mundo em rodas e eventos que debatem a administração moderna. Tema de seminários, palestras e livros, as formas de liderar atraem todos aqueles que almejam ou se deparam repentinamente com um cargo de líder – seja supervisor, gerente, diretor, presidente ou dono de uma empresa.

O que pouco se divulga nesses livros e palestras é que cientistas ao redor do mundo já estudam, desde o início da década, a influência real e física que um chefe ruim tem sobre os empregados e subordinados.

Na Suécia, por exemplo, uma pesquisa realizada com 3.122 profissionais, durante dez anos, diz que o trabalhador que tiver um bom chefe ou patrão tem 20% menos chance de ter um infarto ao longo de 365 dias, do que os trabalhadores vítimas de assédio ou dos chefes abusivos.

O levantamento sueco também aponta que os trabalhadores expostos a ambientes gerais de trabalho saudável, sem estresse ou assédio moral, têm as chances de ter infarto reduzidas em 39% ao longo de quatro anos. Ou seja, o empregado cujos colegas de trabalho são responsáveis e gentis consegue manter um equilíbrio importantíssimo para ter a pressão arterial controlada.

Além da Suíça, Finlândia e Inglaterra também fizeram conjuntamente estudos sobre o assunto e constataram que os operários que relatam tratamentos injustos por parte dos chefes têm mais tendência de morrer de distúrbios do coração. Os pesquisadores europeus acompanharam 804 operários dos dois países ao longo de trinta anos e comprovaram que aqueles que relatavam tratamento injusto dos superiores tiveram mais distúrbios do coração, chegando até a falecer, em determinados casos.

“O bom chefe não se impõe pelo grito, mas sim pelo exemplo, acessibilidade e capacidade de ouvir. O empregado que executa uma tarefa errada, às vezes, o faz por falta de orientação exata, acompanhamento e processos. Por isso, estar por perto e dar oportunidade dele falar pode encurtar o caminho e evitar todo um clima estressante, que prejudica a saúde de todos ao redor”, avalia o professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), José Lupolli Júnior.

Atuação-modelo

O mau comportamento dos chefes no Brasil está por trás também do alto índice de pedidos de demissões registradas no País nos últimos anos. De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a rotatividade do mercado de trabalho brasileira está entre as mais altas do mundo. O chamado turnover – fim de ciclo, no inglês – está em patamares assustadores em setores, como o de serviços, comércio, agricultura e construção civil.

No comércio, 64% das vagas geradas anualmente têm trabalhadores demitidos ou demissionários. O patamar só perde para agricultura (92%) e construção civil (115%), segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2013.

Nas projeções do MTE, ao menos 35% das pessoas que deixaram os empregos nos últimos quatro anos saíram por livre e espontânea vontade. Ou seja, deixaram a vaga em busca de novas oportunidades no mercado.

“Óbvio que a relação com o chefe e com os colegas não é o único motivo de um pedido de demissão do empregado. Mas numa situação em que os benefícios, o horário de trabalho ou a jornada não são satisfatórios, essa relação vira a pá de cal que o funcionário precisa para sair. Por isso, os gestores devem ter compromisso em entender e tentar promover mudanças e propor melhoras antes de aceitar uma demissão, porque isso também é oneroso para o caixa da empresa”, diz o consultor e pesquisador da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Neto (Unesp), Eduardo Freitas.

Nos cálculos do também consultor de Recursos Humanos (RH) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Eduardo Varella, as despesas de uma empresa com folha de pagamento crescem ao menos 15% a cada 5% de funcionários demissionários. Ou seja, numa situação hipotética em que a empresa tenha 50 funcionários, sendo que anualmente três deles pedem demissão, as despesas aumentam proporcionalmente.

“Por cima, é possível considerar que os principais problemas estão nas despesas de rescisão de contrato de trabalho, assim como as despesas de novo recrutamento, de treinamento inicial, adaptação e outras despesas variáveis, como advogados e justiça trabalhista – em caso de empregados que ingressam com ação judicial”, diz Varella. “Um processo de demissão também desencadeia na equipe a perda de produtividade, de eficiência, qualidade, críticas ao modelo de gestão do líder, enfim. Situações difíceis de mensurar monetariamente em certos setores, mas que podem elevar ainda mais a rotatividade de uma empresa”, completa.

De acordo com os consultores ouvidos pelo Guia da Farmácia, a alta rotatividade de empregados em uma loja, cargo ou departamento é facilmente identificada pelos contínuos bate-bocas, choros nos cantos e reclamações da equipe que são as primeiras características para identificar um gestor ruim, que compromete o andamento geral do trabalho.

Pesquisas organizacionais em grandes empresas também já detectaram que a geração de trabalho inútil e o simulador de atividades estão entre os outros motivos de insatisfação das equipes com o chefe.

“Principalmente entre os mais novos, a chamada ‘geração Y’, trabalhar sob pressão desnecessária é fator determinante para a perda de estímulo no ambiente de trabalho. No comércio, onde os mais novos costumam ocupar os cargos de balconistas e vendedor, é possível ver em estatísticas que a rotatividade é maior, mas muitos se perguntam por quê? Tal qual como os próprios funcionários, o chefe também precisa passar por reciclagem constante e avaliação 360 graus para não perder o norte das ações que ele toma diariamente. É uma regra de ouro que vale não só para o bolso, mas para a saúde dos empregados e da própria empresa”, avalia Lupolli Júnior.

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Autor: Rodrigo Rodrigues

Prazos encurtados

Edição 282 - 2016-05-01 Prazos encurtados

Essa matéria faz parte da Edição 282 da Revista Guia da Farmácia.

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