A nova terceira idade

A população predominantemente jovem está ficando escassa. O País vive um processo de envelhecimento e é necessário se adequar aos desafios que esse novo cenário impõe

O Brasil está ficando velho. Em apenas duas décadas, a configuração populacional brasileira estará completamente alterada pela primeira vez na história. As projeções apontam que, após 2030, o contingente acima dos 60 anos de idade será maior do que o de crianças e adolescentes de até 14 anos de idade. Em 2050, os idosos representarão o dobro dessa população jovem.

Esse novo perfil se deve a fatores, como diminuição da mortalidade infantil e adulta e queda da natalidade; a partir de 2040, os únicos grupos populacionais que vão crescer serão os de pessoas com 55 anos de idade ou mais.

A população brasileira está vivendo mais e melhor. Neste ano, a expectativa de vida ao nascer subiu para 75 anos de idade, um acréscimo de 3,7 anos em uma década. Se comparado aos últimos quinze anos, o aumento é de seis anos.

Para se ter uma ideia, em 1900, a expectativa de vida do brasileiro era de 33 anos de idade. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que estima em 77,8 anos a expectativa de vida do brasileiro em 2025 e de 81,2 anos em 2060.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que existem, atualmente, no mundo, perto de 800 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade. E projeções da entidade indicam que esse contingente populacional deve atingir dois bilhões de pessoas em 2050, o que representará 25% do total de habitantes do planeta. Ou seja, uma pessoa em cada cinco será idosa nos próximos 35 anos. 

Boa parte das causas para o envelhecimento da população é reflexo das políticas públicas de saúde preventiva, como as campanhas de vacinação que, no caso do Brasil, contribuíram para que a mortalidade infantil caísse de 20 mil nascidos, em 2000, para 14 por mil neste ano, devendo chegar a 11 por mil em 2015, segundo levantamento do IBGE.

Para a consultora especializada em varejo farmacêutico, Silvia Osso, com o aumento da população idosa, será necessário proporcionar um excelente atendimento, tendo em vista que o idoso quer cuidar de sua longevidade e saúde e não da doença. “Há muitos idosos com excelente saúde e que exigem cuidados de prevenção, tanto para a saúde como para a beleza.” 

Para o governo, o aumento do número de idosos acarreta uma despesa maior se pensarmos na aposentadoria; para o varejo, inúmeras oportunidades. Já para as farmácias, Silvia indica que será necessário iniciar um trabalho de Atenção Farmacêutica e qualificação dos profissionais da farmácia para esse atendimento.

Apesar de boa parte da sociedade encarar o envelhecimento como doenças e fragilidade, os idosos do século 21 têm um novo perfil, estão mais ativos e apesar de muitos serem portadores de patologias crônicas, conseguem melhorar a qualidade de vida quando praticam atividades físicas, por exemplo.

Veja a seguir, as principais doenças que mais acometem a população idosa brasileira e de que forma as pessoas estão lidando com elas:

Hipertensão arterial

É uma condição clínica que se caracteriza por níveis elevados de Pressão Arterial (PA). A pessoa é considerada hipertensa quando a PA sistólica ou máxima for ≥ 140 mmHg e⁄ou de PA diastólica ou mínima for ≥ 90 mmHg. 

Trata-se do principal fator de risco para derrames, doenças do coração, como infartos, paralisação dos rins, lesões nas artérias e alterações no olho. Ela atinge 32,5% (36 milhões) de brasileiros adultos, mais de 60% dos idosos, sendo responsável por 80% dos Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs), 60% dos infartos do miocárdio, 40% dos casos de insuficiência cardíaca e 37% das insuficiências renais terminais que precisam de diálise. 

Diabetes

O diabetes mellitus é uma doença que ocorre quando há o aumento da glicose no sangue. É classificado em tipo 1 e 2. O tipo 1, que é o mais grave e ocorre principalmente em crianças e adultos jovens, sendo necessário o tratamento com aplicações de insulina. 

Já o diabetes tipo 2, que é o mais frequente, está associado à resistência à insulina provocada pela obesidade e sobrepeso. Em idosos, o excesso de peso é uma das maiores causas do diabetes tipo 2, o que exige cuidados ainda maiores com a alimentação e a prática regular de alguma atividade física.  

Osteoporose

A perda de minerais, como o cálcio, e a deficiência de vitamina D são fatores que contribuem para o surgimento de doenças, como a osteoporose, tão comum em idosos e mulheres na menopausa. Crônica, a doença torna os ossos tão frágeis que podem se quebrar mesmo sem causa aparente.  

Artrose

É uma patologia que já atinge dez milhões de pessoas no País, sendo que apenas 42% delas já estão diagnosticadas. Segundo a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), 20% dos adultos brasileiros já são acometidos pela doença e o excesso de exercícios físicos será a causa de 45% dos casos de artrose no futuro. 

Artrite

É um processo inflamatório em qualquer uma das 68 articulações. Caracteriza-se por dor aguda, inchaço, vermelhidão, aumento do volume local e limitação da articulação, manifesta-se em algumas doenças reumatológicas ou não, lúpus, artrite reumatoide, gota, anemia falciforme, entre outras. 

Mal de Alzheimer

Doença degenerativa do cérebro, que piora com o tempo de modo lento, afetando o funcionamento intelectual e as atividades da vida diária. Ocorrem algumas alterações com umas proteínas no cérebro que matam os neurônios e prejudicam a comunicação entre as células. 

Perda da audição

Com o avançar da idade, a pessoa começa a apresentar um processo natural de envelhecimento de seus órgãos, incluindo o sistema auditivo. O envelhecimento do ouvido humano é resultado dos efeitos cumulativos de vários fatores extrínsecos ao sujeito, tais como a exposição a ruídos, nutrição, estresse e uso de medicamento, somados ao envelhecimento.  

Impotência sexual

Diferentemente de uma “falha” ocasional, a Disfunção Erétil (DE) incapacita o homem, de forma permanente, em ter ou manter uma ereção peniana suficiente para uma relação sexual satisfatória. O problema pode estar associado a outras doenças, entre elas, principalmente: diabetes, pressão alta, dislipidemia, doenças neurológicas e o envelhecimento. 

Doença de Parkinson

É causada pela morte progressiva de células nervosas no cérebro, mas especialmente de um grupo particular que produz a dopamina. A doença atinge cerca de 3% das pessoas com mais de 64 anos de idade e a frequência aumenta em idades cada vez mais avançadas. 

Os sintomas característicos da doença são os tremores, a pobreza e lentidão dos movimentos, rigidez muscular e o aparecimento progressivo de desequilíbrio e dificuldade para a marcha. 

Outros problemas também ocorrem e são frequentes, como: urgência para urinar quando a bexiga está cheia, intestino preso, perda do olfato, problemas com o sono, sonolência durante o dia. 

Visão 

Catarata, glaucoma, retinopatia diabética, obstrução venosa retiniana, degeneração macular relacionada à idade são alguns dos males que podem prejudicar a visão do idoso. Esses problemas também podem ser secundários a doenças sistêmicas que aparecem com a idade, como diabetes (retinopatia diabética) ou aterosclerose (obstrução venosa).  

Incontinência urinária

A doença afeta uma em cada três pessoas acima dos 60 anos de idade e é conhecida mundialmente como “câncer social”, por causar, na maioria dos casos, constrangimento e isolamento, podendo levar à depressão. 

No Brasil, cerca de dez milhões de pessoas apresentam algum tipo de incontinência e muitas não procuram ajuda médica por acreditarem que o problema é normal ou natural da idade ou por acreditarem que não há tratamentos efetivos. 

Pele frágil

A pele do idoso precisa de mais hidratação e é comum a pele seca (xerose) como uma das causas de coceira (prurido) e até predisposição para eczemas. 

Com o envelhecimento, a estrutura dérmica se modifica e há fragilidade dos vasos que facilmente se rompem mesmo sem trauma – púrpura senil. Importante fazer uma visita ao dermatologista para diferenciar de outras púrpuras e vasculites que podem ocorrer em associação com outras patologias. 

Doenças cardiovasculares 

Infarto, angina e insuficiência cardíaca. Todas elas têm como fatores de risco a pouca atividade física (sedentarismo), fumo, diabetes, alta taxa de gordura no sangue (colesterol) e obesidade (gordura). Entre os principais sintomas, estão falta de ar, dor no peito, inchaço e palpitações. A melhor forma de prevenção envolve a prática de atividade física de forma sistemática, não fumar e controlar o peso, o colesterol e o diabetes. 

Câncer 

Moléstia que mais preocupa a população em geral e, em particular, os idosos. O câncer tem entre os fatores de risco o fumo, a exposição ao sol, a alimentação inadequada, a obesidade, o alcoolismo e casos na família. 

Dependendo do tipo de câncer, um dos sintomas mais comuns é o emagrecimento inexplicável. A melhor forma de prevenção é consultar o médico, pelo menos, uma vez por ano, para fazer exames, evitar exposição ao sol em excesso e não fumar.

Autor: Adriana Bruno, Marcelo de Valécio e Vivian Lourenço

Novos Postos

Edição 284 - 2016-07-01 Novos Postos

Essa matéria faz parte da Edição 284 da Revista Guia da Farmácia.

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