Alerta constante

Caracterizadas por serem doenças decorrentes de inflamações, elas provocam crises graves e fazem com os pacientes recorram ao tratamento farmacológico frequentemente

Os dias mais frios trazem conforto para alguns e desconforto para tantos outros. É nesta época do ano que a população passa a ser mais acometida por doenças, principalmente as respiratórias que, em sua maioria, estão relacionadas com problemas alérgicos.

Estima-se que, no Brasil, existam aproximadamente 20 milhões de asmáticos. Ela é uma causa importante de faltas escolares e no trabalho. Segundo o DATASUS, o banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS), ligado ao Ministério da Saúde (MS), ocorrem, anualmente no Brasil, em média, 350 mil internações. A asma está entre a terceira ou quarta causa de hospitalizações (2,3% do total).

A doença é considerada crônica e atinge todas as faixas etárias, sendo que o primeiro episódio acontece 90% das vezes nos primeiros cinco anos de vida.

De acordo com o coordenador da comissão de asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Dr. Emílio Pizzichini, a asma é uma doença complexa, geralmente determinada pela combinação de fatores hereditários e ambientais, ou seja, ela não é apenas hereditária.

Não que a predisposição genética não tenha influência nos casos da asma, como explica a médica pneumologista e intensivista do Hospital Israelita Albert Einstein e professora livre-docente da disciplina de pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Dra. Carmen Silvia Valente Barbas: “O paciente tem de ter uma predisposição genética para iniciar um quadro de asma, que é uma doença inflamatória das vias aéreas, mais comumente iniciada após infecção respiratória, contato com alérgeno, frio, exercício físico”.
Diferenças entre as doenças

A asma, segundo os especialistas, é caracterizada por uma resposta inflamatória do tipo alérgica, na mucosa respiratória e que resulta em uma hiperatividade brônquica. Os principais sintomas são cansaço, tosse noturna, tosse induzida por exercícios físicos, vômitos pós-tosse, entre outros.

A principal característica clínica é a ocorrência de episódios intermitentes (crises) de falta de ar, principalmente à noite ou de madrugada, seguida por chiado, sensação de aperto ou peso no peito, tosse seca (que pode ser de manifestação isolada). Inicialmente, esses sintomas podem aparecer somente quando o paciente pratica algum exercício físico, mas se houver agravamento da doença, eles passam a existir mesmo em repouso, sendo piorados pela atividade.

Além disso, o mestre e doutor em alergia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), integrante da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI), Dr. Raul Emrich, esclarece que existem variações da asma. “Por exemplo, há a que só aparece em crianças pequenas, junto com doenças virais febris e desaparece com o crescimento; a que só aparece com exercício, a não alérgica que surge na vida adulta, etc.”

Em muitas dessas situações, existirá a necessidade de tratamento prolongado, visando uma vida melhor. Tratar, nesse caso, de acordo com o médico, não significa curar, mas permitir uma boa qualidade de vida. Quando o indivíduo passa por uma mudança de fase na vida (por exemplo, da infância para a adolescência, ou após uma gravidez), é possível que a asma se modifique, ou “sossegue”.

Recentemente, a diretriz internacional chamada de GINA (iniciativa global para asma, ou Global Initiative for Asthma – www.ginasthma.com) propôs os termos Asma Controlada e Asma Não Controlada. “Asma não tem cura, mas hoje existem tratamentos eficientes para minimizar ao máximo todos os sintomas e controlar eficientemente a inflamação, evitando crises e hospitalizações, proporcionando ao paciente uma excelente qualidade de vida”, completa o Dr. Emrich.

Já a bronquite é uma inflamação da árvore brônquica e pode ser aguda ou crônica. A bronquite aguda é causada, em geral, por vírus, mas pode ser decorrente também de infecções bacterianas. É mais frequente nos meses de outono e inverno. A bronquite crônica é um termo antigo, substituído hoje pela designação Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), que engloba a bronquite crônica e o enfisema.

Para outros especialistas, o termo asma é empregado para a doença mais crônica, enquanto bronquite pode ser um quadro mais agudo. A bronquite, em adultos, está também associada ao uso do tabaco e outros poluentes ambientais.

A companheira dos asmáticos

A bombinha é um dispositivo que armazena o medicamento na forma de aerossol que é inalado, muito seguro e eficiente, mas deve ser usado corretamente para ter o seu efeito otimizado. Pode conter broncodilatadores, corticoide inalatório ou associações dos dois.

O mestre e doutor em alergia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), integrante da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI), Dr. Raul Emrich, ressalta que é importante entender que uma bombinha é apenas o dispositivo, geralmente feito de plástico e alumínio, que facilita a aplicação do medicamento.

O fato de algumas pessoas ficarem preocupadas quando se deparam com um inalador de bolso é explicado por uma série de mal-entendidos que ocorreram no passado.

Primeiro mal-entendido: a bombinha “vicia”. “Quando as crises são intensas e frequentes, um erro grave é usar somente o remédio que produz alívio temporário dos sintomas, sem tratar a causa da doença que é a inflamação”, alerta o Dr. Emrich. Assim, cada vez mais, e em intervalos cada vez menores, será necessário usar o medicamento de alívio, dando a impressão de que o paciente está ficando viciado no uso da bombinha.

Segundo mal-entendido: a bombinha faz mal ao coração. Na verdade, o pesquisador da Unifesp esclarece que a medicação que costuma causar a sensação de alívio, é um relaxante muscular brônquico, chamado de broncodilatador. Por ter uma ação muscular, ao cair na circulação sanguínea, o broncodilatador pode produzir tremor em outros músculos do corpo, com efeito inclusive no coração, causando taquicardia.

 

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O que desencadeia uma crise?

Os principais sintomas da asma são crises de dispneia (“falta de ar”), sibilos (“chiado”) e tosse. Os principais sintomas de DPOC são a tosse produtiva (com secreção), praticamente diária, e dispneia relacionada aos esforços físicos, com agravamento progressivo. Os pacientes com DPOC também podem apresentar sibilos.

Os principais fatores desencadeantes de crises de asma são a exposição aos alérgenos inaláveis (ácaros, fungos, pelos de animais, pólens, alérgenos ocupacionais, etc.) e aos poluentes intradomiciliares e extradomiciliares (fumaça de cigarro, odores fortes, poluentes da combustão de veículos, poluentes industriais, etc.). Contudo, outros agentes/fatores também podem ocasionar crises de asma em determinados indivíduos, tais como exercício físico, medicamentos, infecções respiratórias, alimentos e estresse emocional, explica a Dra. Norma.

Apesar de serem consideradas doenças sem cura, mas que exigem cuidados, essas enfermidades levam ao remodelamento do brônquio. Por exemplo, quando a pessoa se corta, aparece uma cicatriz. Isso acontece com o brônquio, levando a troca do tecido por tecido cicatrizante, que não tem a mesma elasticidade, o que faz com que haja uma restrição e a diminuição da capacidade respiratória. A condição pode causar até problemas cardíacos, se não tratada adequadamente.

Formas de controle

O tratamento de ambas as doenças é dirigido ao combate dos sintomas. Nos pacientes asmáticos, a normalização da função pulmonar é objetivada. A estratégia terapêutica vai depender da gravidade da doença individual de cada paciente, bem como a resposta ao tratamento. “Alguns cuidados servem para ambas as doenças, como vacinação contra o vírus influenza anualmente, e para aqueles usuários do tabaco, a cessação é obrigatória”, complementa o pneumologista do Hospital Bandeirantes, Dr. André Suzuki.

De modo geral, a Dra. Norma explica que o tratamento da asma inclui medidas de controle ambiental, tratamento medicamentoso e imunoterapia (vacinas). O controle ambiental visa à prevenção da exposição aos alérgenos e poluentes ambientais. O tratamento medicamentoso subdivide-se em tratamento das crises e tratamento intercrise.

Nas crises, utiliza-se, de acordo com a gravidade do caso, beta-agonistas de ação curta por via inalatória e corticosteroides sistêmicos (via oral ou endovenosa). Na intercrise, também de acordo com a gravidade da doença e faixa etária, estão indicados os corticosteroides inalados, beta-agonistas de ação prolongada via inalatória, antileucotrienos, cromoglicato, corticosteroides orais, anti-IgE e terapia imunossupressora. A imunoterapia específica está indicada nos casos em que há sensibilização alergênica comprovada aos alérgenos inaláveis.

O tratamento da DPOC inclui a terapia não medicamentosa e medicamentosa.

O asmático, quando bem tratado, deve ter uma vida normal. Os cuidados são os mesmos da população em geral, como presença de doenças infecciosas (especialmente a gripe), atividades físicas e boa alimentação.

Autor: Vivian Lourenço

Novos Postos

Edição 284 - 2016-07-01 Novos Postos

Essa matéria faz parte da Edição 284 da Revista Guia da Farmácia.

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