Orientação profissional

Diante das estatísticas que indicam mais de 14 milhões de diabéticos no País, as farmácias precisam se preparar para atendê-los, visto que esse canal é um importante aliado à adesão ao tratamento

Segundo dados da International Diabetes Federation (IDF), estima-se que cerca 14,3 milhões de brasileiros tenham diabetes, número que faz o País figurar como o quarto, no mundo, entre os que mais sofrem com a doença.

Assim, é fundamental que os agentes de saúde estejam preparados para atender às demandas desse público, a fim de que cresçam as taxas de adesão ao tratamento. Nesse sentido, as farmácias desempenham um papel crucial. Afinal, são nesses canais que as pessoas chegam com suas receitas médicas, com dúvidas no uso das medicações ou questionando como será a rotina pós-diagnóstico. 

“Vejo que, hoje, o principal influenciador no tratamento é o farmacêutico, porque muitos médicos prescrevem a insulina, por exemplo, e não mostram como é o uso”, lamenta o gerente de produto da Roche Diabetes Care, André Saraiva.

Diante dessa demanda, o tema ‘educação em diabetes’ ganha bastante relevância na hora da dispensação, e o auxílio do farmacêutico precisa incluir desde o esclarecimento sobre os mitos relacionados à doença, passando pela adesão ao tratamento e, por fim, chegando à necessidade de se realizar uma constante monitoração da glicemia capilar. 

“Na dispensação dos medicamentos em geral, vale alertar para os cuidados com as reações adversas e esclarecer os riscos da hipoglicemia, em particular se for um paciente usuário de insulina”, avalia o membro de comissões assessoras do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), José Vanilton de Almeida. 

É igualmente importante mostrar-se interessado pela saúde geral do paciente e se dispor a passar mais informações. “Na dispensação de qualquer medicamento, o farmacêutico deve questionar como está o controle glicêmico, advertir sobre possíveis reações adversas ou verificar se tem ido regularmente ao médico, por exemplo”, recomenda Almeida. 

A gerente de produto da AstraZeneca, Monique Mazzaron, reforça que a falta de entendimento sobre o diabetes e pouco conhecimento em relação às medicações são fatores que contribuem para a falta de adesão, trazendo à tona a importância dos farmacêuticos para preencher essa lacuna. “Profissionais treinados sobre a doença e que estão em contato direto com o paciente podem ajudar a reforçar a orientação médica, via diálogo com o paciente”, aconselha.

Glicemia capilar

Um dos serviços que as farmácias podem oferecer aos pacientes com diabetes é o de monitoração da glicemia capilar. Segundo esclarece o membro de comissões assessoras do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), José Vanilton de Almeida, para realizar esse serviço, a farmácia precisa obedecer as regras da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 44/09, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A resolução implica cumprir, no mínimo:

• Adequação física da farmácia para montar a Sala de Serviços Farmacêuticos;

• Adequação documental interna, com a criação dos Procedimentos Operacionais Padrão (POPs); 

• Adequação documental junto à Vigilância Sanitária local, solicitando a alteração na Licença de Funcionamento, detalhando os serviços a ser efetuados.

A consultora especializada em varejo farmacêutico, Silvia Osso, lembra que esse serviço é importante para todos: farmácia, atendentes, balconistas, clientes e não clientes. “Quando oferecido em dias especiais, como um evento, propicia o aumento das vendas ou o retorno em breve de novos compradores, já que muitos acabam identificando-se diabéticos pelos exames realizados”, justifica.

Ações de reforço

As farmácias podem desenvolver ações direcionadas no ponto de venda (PDV), conforme orienta a consultora especializada em varejo farmacêutico, Silvia Osso. 

“Podem-se realizar testes de glicemia em dias especiais; palestras sobre a doença ou alimentação; caminhadas em locais próximos da farmácia patrocinados pelo estabelecimento; ou exercícios à sua porta ou no estacionamento da loja, incentivando os clientes a prática constante”, sugere. 

As lojas podem, ainda, desenvolver folders com informações gerais sobre a doença. “Esses materiais podem contemplar dados gerais sobre o diabetes, sobre a necessidade de monitoração glicêmica capilar, a importância da adesão ao tratamento de uma doença crônica, os benefícios da alimentação saudável e das atividades físicas e cuidados com as complicações”, ensina o especialista do CRF-SP. 

O atendimento pode, inclusive, continuar após a venda dos medicamentos, usando a tecnologia como aliada. “Atualmente, esse contato pode ser feito via telefone e outros recursos de mídias sociais, como Facebook, WhatsApp, entre outros”, aponta Silvia. Vale, ainda, a discrição na hora da abordagem. “Há muitos clientes que não gostam de se expor como diabéticos”, alerta.

Para conquistar mais informações e programas diferenciados de atendimento ao consumidor, as farmácias podem buscar parcerias com as fabricantes. De modo geral, as grandes indústrias possuem, por exemplo, programas de descontos para medicamentos de doenças crônicas e eles também podem ser disseminados no PDV. 

Essa parceria também é importante pela troca de informação e pelo suporte com o abastecimento de materiais educacionais, segundo mostra a Business Unit Manager Brazil de Diabetes Care Johnson & Johnson, Débora Hila. “Essa união pode gerar, entre outras, ações de medições do nível glicêmico na loja e desenvolvimento de materiais informativos”, diz. 

A OneTouch®, por exemplo, possui um time de consultores que atendem a lojas em todo o Brasil para atuar no treinamento de vendedores. “Há, ainda, o apoio às lojas na gestão da gôndola de diabetes ao agrupar os produtos em Checar, Cuidar, Consumir e Controlar”, acrescenta Débora.

Aplicação correta da insulina

Para algumas pessoas com diabetes, a aplicação diária de insulina pode assustar ou gerar diversas dúvidas. Portanto, é na farmácia que elas irão esclarecer tudo. Assim, farmacêutico e balconistas precisam saber como auxiliar os pacientes. 

1. Alerte o paciente que alguns tipos de insulina requerem que o frasco (de aspecto leitoso), seja rolado levemente entre as mãos por, no mínimo, 20 vezes, para garantir ação correta da insulina. Procedimento similar deve ser realizado com as canetas. 

2. Outro ponto importante, anterior à aplicação, é mostrar que a insulina precisa ser injetada no tecido subcutâneo, camada de gordura que fica logo abaixo da pele. Se a agulha atingir o músculo, por exemplo, o produto será absorvido mais rapidamente e trará dor ao paciente; e se a injeção for mais superficial, o hormônio ficará na pele, afetando o início de ação e a duração no organismo. 

3. Depois dessa preparação, o passo seguinte é a assepsia do local escolhido que pode ser feita com álcool 70% com um movimento único.

4. Dependendo do tamanho da agulha usada, orienta-se fazer uma prega subcutânea e inseri-la em um ângulo de 90 graus (no caso de agulhas de 4 mm e 5 mm, a prega subcutânea é dispensável). É importante ressaltar, ainda, que se a área do corpo tem menos gordura, a aplicação deve ser feita em um ângulo de 45 graus para evitar injeção intramuscular.

5. As regiões recomendadas para aplicação da insulina são:

abdome, coxas, braços ou nádegas. É fundamental que haja um rodízio entre os locais.

6. Depois de empurrado o êmbolo (ou botão no caso de caneta) para injetar a insulina, deve-se esperar cinco segundos no caso de seringa e 10 segundos no caso de canetas antes de retirar a agulha da pele e, em seguida, soltar a prega subcutânea. As agulhas e seringas não devem ser reutilizadas.

7. Após a aplicação, deve-se realizar o descarte a agulha em um coletor para perfurocortantes ou recipiente com paredes rígidas.

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Garantia de fidelidade

Pacientes com doenças crônicas costumam ser clientes fiéis e importantes para as farmácias. “Pelas últimas pesquisas, eles vão até três vezes ao mês a esses estabelecimentos. E os clientes que têm atendimento personalizado acabam consumindo mais”, sinaliza Silvia. 

O tíquete médio desembolsado em cada visita tende a ser alto, embora varie bastante de acordo com o tipo de tratamento realizado. “Se considerarmos um paciente que comprará apenas produtos relacionados diretamente ao tratamento, como um refil de insulina, agulhas, adoçantes, lenços para limpeza da pele, monitor de glicemia, lancetas e tiras de monitor, esse cliente gastará cerca de R$ 600,00”, exemplifica a consultora educacional diabetes care da BD, Carolina Mauro, reforçando que, nesse cálculo, não estão inclusos o desembolso para o tratamento de outras doenças concomitantes, além de outros produtos, como cuidados gerais e alimentos diets.

Monique, da AstraZeneca, também aponta como os gastos podem ser elevados. “As medicações mais modernas custam, em média, R$ 120,00 por mês e, muitas vezes, são usadas em combinação, ou seja, somente para tratar o diabetes, o paciente pode usar até três produtos”, analisa.

Mix direcionado

Também faz parte do bom atendimento na farmácia, o sortimento que a loja oferece a seus clientes. Segundo o membro de comissões assessoras do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), José Vanilton de Almeida, as pessoas com diabetes necessitam de uma gama enorme de produtos, que vão muito além dos medicamentos. Entre as necessidades, estão os aparelhos e acessórios para glicemia capilar, alimentação especial, contendo artigos diets e lights; além de produtos para o cuidado com os pés. 

Segundo orienta a consultora especializada em varejo farmacêutico, Silvia Osso, não podem faltar:

• Acessórios, como medidores de pressão, sapatos, palmilhas e meias especiais para o amortecimento e prevenção a ferimentos nos pés dos diabéticos.

• Itens para controle glicêmico, como monitores, lancetas e tiras de teste.

• Tratamento e prevenção, como soluções para limpeza prévia da região a ser aplicada, como álcool em gel; cremes hidratantes; protetores de pele; antirrachaduras; além de curativos pós-aplicação.

• Aplicadores de insulina, como canetas, agulhas, seringas e antisséptico para limpeza prévia da região a ser aplicada, além de curativos pós-aplicação.

• Alimentos e suplementos, como produtos diet, adoçantes, vitaminas e suplementos alimentares.


Autor: 
Kathlen Ramos

Proporções Pandêmicas

Edição 285 - 2016-08-01 Proporções Pandêmicas

Essa matéria faz parte da Edição 285 da Revista Guia da Farmácia.

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