Os problemas da obesidade

São muitas as causas da doença e, cada vez mais, a prevenção passa a ser ato prioritário

A obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a projeção é de que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso e mais de 700 milhões estejam obesos. Já o número de crianças pode chegar a 75 milhões de obesas e com sobrepeso, no mundo, caso nada seja feito. 

De acordo com levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, o índice de obesos beira os 60%, ou seja, cerca de 82 milhões de pessoas apresentam Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou maior do que 25, que representa sobrepeso ou obesidade. O Brasil é o quinto país com mais obesos no mundo.

“A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal no indivíduo, que ocorre quando a oferta de calorias é maior que o gasto de energia corporal. O diagnóstico em adultos é dado pelo uso do IMC. A obesidade pode estar ligada a diversos fatores de risco, como hipertensão, diabetes, dislipidemia, problemas no coração e sedentarismo. Ou ainda relacionada ao patrimônio genético da pessoa, aos maus hábitos alimentares, à falta de atividade física e às disfunções endócrinas hormonais, por exemplo”, explica a nutricionista e pedagoga Daniela Carregosa. 

Segundo a endocrinologista-chefe do serviço de Endocrinologia do Hospital Edmundo Vasconcelos, Dra. Vivian Estefan, são muitas as causas da obesidade e, cada vez mais, a prevenção passa a ser ato prioritário. 

“Envolve a conscientização da importância da atividade física e da alimentação adequada. O estilo de vida sedentário, as refeições com poucos vegetais e frutas, além do excesso de alimentos ricos em gordura e açúcar precipitam o aumento do número de pessoas obesas, em todas as faixas etárias, inclusive crianças.”

Para a diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), Dra. Maria Edna de Melo, a obesidade se desenvolve de forma multifatorial, ou seja, é preciso que a pessoa tenha uma predisposição genética e viva num ambiente obesogênico. “Enquanto para uns a genética será mais determinante, para outros, os hábitos serão mais importantes.”

A obesidade é considerada problema de saúde pública, pois o obeso tem mais propensão a desenvolver problemas, como hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, além de problemas físicos, como artrose, pedra na vesícula, artrite, cansaço, refluxo esofágico, tumores de intestino e de vesícula.

Sobrepeso, obesidade e obesidade mórbida

• Sobrepeso: quando o indivíduo apresenta IMC = 25 a 29,9 kg/m2

• Obesidade grau I: quando o indivíduo apresenta IMC = 30 a 34,9 kg/m2 com comorbidade moderada.

• Obesidade grau II: quando o indivíduo apresenta IMC = 35 a 39,9 kg/m2 com comorbidade grave.

• Obesidade grau III: quando o indivíduo apresenta IMC = acima de 40 kg/m2 com comorbidade muito grave.

• Obesidade mórbida: IMC maior que 40 ou 45 kg/m2, apresenta consequências mórbidas orgânicas e psicossociais.

Fontes: Diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), Dra. Maria Edna de Melo; e endocrinologista-chefe do serviço de Endocrinologia do Hospital Edmundo Vasconcelos, Dra. Vivian Estefan

Como identificar a obesidade?

A doença é identificada pelo cálculo do IMC. Divide-se o peso (em kg) pela altura (em metros) elevada ao quadrado. De acordo com o padrão utilizado pela OMS, quando o resultado fica entre 18,5 e 24,9, o peso é considerado normal; entre 25,0 e 29,9, sobrepeso; e acima deste valor, a pessoa é tida como obesa. 

“A maneira mais precisa para se determinar se o indivíduo está acima do peso é a avaliação por meio da bioimpedância, um método de análise da composição corporal. 

Ele é utilizado para realizar a avaliação precisa da quantidade de gordura, massa magra e água corporal. Avalia também a porcentagem de gordura corporal e a taxa de metabolismo basal. Nem sempre um IMC elevado se deve ao excesso de gordura corporal, muitas vezes, existe uma elevada quantidade de massa muscular, não se caracterizando uma obesidade”, revela a Dra. Vivian.

A nutricionista Daniela afirma que além do cálculo do IMC e a bioimpedância, a circunferência abdominal também é analisada.

Maiores acometidos

No Brasil, o excesso de peso é maior entre o sexo feminino, com 58,2%, do que no sexo masculino, com 55,6%. Os dados, que são da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no segundo semestre de 2013, e divulgada em junho de 2015, ainda revelam que o excesso de peso aumenta de forma mais rápida com o aumento da idade entre os homens, principalmente, na faixa etária de 25 a 29 anos, chegando a 50,4%. 

Nas mulheres, a prevalência do excesso de peso na faixa etária de 35 a 44 anos de idade é de 63,6%, enquanto que nos homens é de 62,3%. Na faixa etária de 55 a 64 anos, o excesso de peso entre as mulheres chega a 70%, já a partir dos 65 anos, é observado um declínio do excesso de peso, tanto no sexo masculino quanto no feminino, sendo mais acentuada nos homens. Na faixa etária de 75 anos ou mais, os homens representam 45,4% e as mulheres, 58,3%.

Aumento entre jovens e crianças

Em 2004, já se estimava que 10% das crianças e adolescentes do mundo apresentavam excesso de peso e que, entre eles, um quarto eram obesos. No Brasil, de acordo com o IBGE, atualmente, 15% das crianças com idade entre 5 e 9 anos são obesas.

Segundo a Dra. Maria Edna, da Abeso, o aumento ocorre pela mudança de hábitos das últimas décadas, com aumento do sedentarismo e do consumo de alimentos industrializados. 

“A redução do número de obesos deve ser realizada por meio da prevenção. O que passa pela redução do tempo de tela (TV, smartphones, etc.) até o cuidado com o sono e aumento da ingestão de água e melhora da alimentação. Em crianças e adolescentes, o tratamento tem como pilares a reeducação nutricional e aumento da atividade física. Entre os adultos, apenas 20% dos pacientes perderão e manterão o peso om mudanças de estilo de vida. Muitos irão precisar de tratamento medicamentoso e, em casos específicos, até de cirurgia bariátrica.”

Já para a nutricionista Daniela, o aumento da obesidade em crianças e jovens ocorre pela grande oferta de produtos industrializados, ricos em gorduras e açúcares, conhecidos como rápidos e práticos. 

Aumento da obesidade entre a população infantil e jovem

2004 – 10% das crianças e adolecentes do mundo já estavam com excesso de peso e 1/4 eram obesas.

2012 – Na adolescência, o excesso de peso chega a 20,5%. Além disso, os dados mostram que o estado nutricional na primeira infância repercute na vida adulta. Nesse contexto, a prevalência de excesso de peso em adultos tem crescido nos últimos anos. Em 2012, metade da população adulta estava com excesso de peso, sendo 17,2% com obesidade.

2013 – Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em2013,60,8% das crianças de até 2 anos já comem biscoito, bolacha ou bolo e32,3% tomam refrigerante e suco artificial.

Ainda segundo a pesquisa,50,6% das crianças entre 9 e 12 meses de idade continuam tomando leite materno como alimentação complementar.

2015 – Dados de 2015 da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SDH), que integram o Sistema Nacional de Indicadores em Direitos Humanos (Snidh) indicam que somente 1,9% das crianças menores de cinco anos apresentam baixo peso, resultado das políticas de acesso aos serviços de saúde e de erradicação da miséria e do quadro de insegurança alimentar no País. Em contrapartida, constatou-se que 7,3% das crianças nessa faixa etária estão com excesso de peso.

O percentual de crianças entre 5 e 9 anos de idade com excesso de peso chega a 33,5%

Fontes: Secretaria Especial de Direitos Humanos (SDH); e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Deficiência de vitaminas X cirurgia bariátrica

A cirurgia bariátrica é indicada para pacientes que tiveram falha no tratamento clínico, inclusive com medicamentos, e que apresentem Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual 35 kg/m2 associado à comorbidades ou maior ou igual a 40 kg/m2, independente da presença de comorbidades. 

Segundo a nutricionista e pedagoga Daniela Carregosa, o perfil metabólico ocorre quando a cirurgia tem importância no tratamento de doenças ocasionadas pelo excesso de peso, como diabetes, hipertensão, dislipidemias, entre outras, e com a cirurgia, os pacientes apresentam melhoras ou até erradicam essas comorbidades. Portanto, perfil metabólico é igual a comorbidades associadas. Já o perfil bariátrico é quando o paciente apresenta apenas excesso de peso e obesidade muito grave ou mórbida sem a associação de comorbidades. 

“A deficiência nutricional e de vitaminas ocorre após a cirurgia bariátrica devido à menor ingestão de alimentos, à redução do estômago, à diminuição da absorção dos nutrientes que variam conforme o tipo de cirurgia. A dieta individualizada e orientada é ponto principal no tratamento, além da necessidade do uso de suplementação nutricional de polivitamínicos e minerais, antes e após a cirurgia, às vezes até por toda vida. As deficiências nutricionais mais comuns são de: proteína, ferro, ácido fólico, zinco, cálcio, vitamina D e vitaminas do complexo B (B12, tiamina- B1, principalmente). Os sintomas dessas deficiências são: queda de cabelo, unhas quebradiças, anemia, fraqueza, cansaço, pele ressecada, entre outros”, alerta Daniela. 

Novidades da indústria

A Novo Nordisk acaba de apresentar uma inovação para a luta contra a obesidade, é o princípio ativo Liraglutida, substância análoga ao hormônio GLP-1 humano. O GLP-1 é produzido naturalmente pelo organismo e liberado em resposta à ingestão de alimentos a fim de regular o apetite, reduzindo a fome e aumentando as sensações de plenitude e saciedade após alimentação. Assim como o GLP-1 natural, a Liraglutida 3 mg age em partes específicas do cérebro para reduzir o apetite e aumentar a saciedade. 

“A Liraglutida pode ser um diferencial no tratamento da obesidade, promovendo uma perda de peso sustentável e também melhoras consistentes de vários fatores de risco cardiometabólicos. Independente do peso corporal inicial, uma perda de peso de 5% a 10% em pessoas com obesidade traz benefícios expressivos à saúde, como melhora dos níveis de glicemia sanguínea, da pressão arterial, dos níveis de colesterol e da apneia obstrutiva do sono. A Liraglutida se liga aos receptores de GLP-1 no cérebro, que estão envolvidos na regulação do apetite, e os ativa. Eles são processados pelo cérebro e traduzidos em aumento das sensações de saciedade e diminuição da fome e, assim, controlam a ingestão de alimentos”, explica a gerente médica Saxenda™/Obesidade da Novo Nordisk, Dra. Rocio Riatto Della Coletta.

No Brasil, o medicamento é indicado como um adjuvante a uma dieta com redução calórica e aumento da atividade física para controle de peso em pacientes adultos com IMC de: ≥ 30 kg/m² (obesos), ou ≥ 27 kg/m² a <30 kg/m² (sobrepeso), na presença de pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso.

Os produtos atualmente licenciados para o tratamento da obesidade no Brasil são o Orlistate, a Sibutramina, a Rosuvastatina Cálcica e o Liraglutida 3 mg. A Sibutramina age no sistema nervoso central, estimulando a sensação de saciedade e diminuindo o apetite. Já o Orlistate age no tubo digestivo, inibindo as enzimas que absorvem as gorduras e impedindo que o organismo armazene parte da gordura ingerida, eliminando-a pelas fezes. A Liraglutida 3 mg é uma substância análoga ao hormônio natural (GLP-1) produzido pelo organismo que não apresenta os efeitos adversos dos outros medicamentos. 

A Rosuvastatina Cálcica deve ser usada como adjuvante à dieta quando a resposta à dieta e aos exercícios é inadequada. Há, ainda, outros fármacos que atuam na redução dos riscos cardiovasculares, como o Nitrendipino.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, em fevereiro deste ano, a Liraglutida 3 mg para o tratamento da obesidade em combinação com dieta hipocalórica e atividade física. A Novo Nordisk ainda depende de outras aprovações e a expectativa é de que o medicamento possa chegar ao mercado ainda neste semestre. 

Autor: Renata Martorelli

 

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Edição 286 - 2016-09-01 Opção de escolha

Essa matéria faz parte da Edição 286 da Revista Guia da Farmácia.

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