Avanço dos fitomedicamentos

O setor se mantém estável, ampliando participação de mercado

A busca por uma vida saudável tem sido cada vez mais presente no dia a dia da população. Saem os produtos industrializados e entram em cena os que contêm o mínimo possível de insumos artificiais.

E não é somente com a alimentação que o brasileiro está preocupado; a busca se reflete também quando o assunto é medicamentos. Utilizar plantas na cura de doenças vem sendo praticado ao longo da existência humana e isto faz com que a procura por fitoterápicos, medicamentos que utilizam plantas medicinais, sem a adição de outros ativos sintéticos, aumente.

Enquanto a produção farmacêutica, em 2015, cresceu 12% em faturamento, fechando em R$ 84,3 bilhões, e 6% em unidades, registrando 4,6 milhões de frascos (dados do IMS Health), o mercado de fitoterápicos movimenta cerca de US$ 20 bilhões todos os anos e está em ascensão, principalmente pelo interesse das pessoas por mais qualidade de vida.

Do total faturado pela indústria farmacêutica em 2015, 58% vieram de medicamentos (referência, marca e genéricos); 20%, de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs); e 22%, de higiene, beleza e nutrição. Ainda segundo o IMS, considerando o total do canal farma, os produtos fitoterápicos representam 2% do faturamento global, movimentando R$ 1,6 bilhão em 2015. 

Desempenho dos fitos

De acordo com a Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápico, Suplemento Alimentar e de Promoção da Saúde (Abifisa), o mercado de fitoterápicos brasileiro apresentou crescimento em torno de 8% comparado ao mesmo período de 2014, que havia crescido 6,1% em relação ao ano anterior. Ou seja, o segmento vem ampliando o patamar de crescimento. Entre os medicamentos de maior demanda, está a castanha-da-índia. Tem aumentado bastante, segundo levantamento da Abifisa, a procura por suplementos à base de cálcio, polivitamínicos e ômega 3. 

O mercado de medicamentos fitoterápicos cresce continuamente. Contudo, segundo analistas do setor, ele tem potencial ainda muito grande não explorado. Segundo a Associação, as prescrições médicas desses medicamentos são inferiores às dos países desenvolvidos. Em boa parte, isso se deve ao desconhecimento da classe médica sobre os efeitos dos fitoterápicos. 

A reversão desse quadro passa pelos esforços da propaganda médica pelas indústrias e, sobretudo, pela inclusão da matéria sobre prescrição de fitoterápicos nas grades curriculares das faculdades de medicina. 

“As universidades precisam cada vez mais promover a integração com as indústrias, contribuindo com o conhecimento e desenvolvimento técnico-científico da fitoterapia. Não se pode esquecer dos investimentos que a indústria tem feito no varejo, cujo papel se destaca pela importância na comunicação e dispensação de fitoterápicos”, afirma a Abifisa. 

Oportunidade lucrativa

Aproveitar esse movimento e aprender a lucrar com os fitoterápicos são desafios para as farmácias e drogarias brasileiras. “Ainda há pouco interesse do varejo farmacêutico em trabalhar com fitoterápicos, que são deixados para as farmácias de manipulação”, afirma a consultora especialista em varejo farmacêutico, Silvia Osso. “Esse baixo interesse ocorre por conta de margens menores, desconhecimento dos clientes e vendedores sobre o assunto e pouca prescrição médica.” 

No entanto, segundo especialistas do setor, as empresas podem otimizar seus recursos e ampliar ganhos com medidas simples, como organizar os produtos de acordo com os interesses dos consumidores. No caso dos fitoterápicos, se possível, reservar a eles um local próximo a itens relacionados com bem-estar, como os alimentos funcionais, e até ao lado de concorrentes sintéticos. 

“Além de um bom atendimento no balcão, a exposição correta é um grande diferencial para garantir o aumento das vendas, sempre respeitando a legislação vigente”, garante a diretora financeira e farmacêutica da rede de farmácias Super Popular, associada da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), Pollyanna Tamascia. 

Uma das maneiras mais utilizadas para exposição dos fitoterápicos é o gerenciamento por categorias, seguindo a Instrução Normativa (IN) 10/09, que permite a esses medicamentos ficarem expostos no autosserviço. 

“O Gerenciamento por Categorias facilita a localização e a identificação do segmento na farmácia, já que fica próximo a outros produtos relacionados para a mesma funcionalidade, como anti-inflamatórios, calmantes, sedativos, complementos alimentares, digestivos, reguladores intestinais, entre outros.” 

Esse tipo de exposição, segundo Pollyanna, ajuda a prescrição farmacêutica, permite realizar um trabalho integrado ao interesse do paciente e aumenta a participação no ponto de venda (PDV). “Fitoterápicos devem ser expostos com os mesmos cuidados de outros itens e, também, separados por tipo de uso”, sublinha a presidente do Instituto de Estudos em Varejo (IEV) Regina Blessa. 

A farmácia não precisa, segundo ela, ter uma gôndola só de fitoterápicos se eles estiverem bem posicionados nas categorias onde o consumidor os procuraria. “Eles podem ser espalhados pela loja toda, mas, se estiverem na categoria correspondente, venderão mais do que em uma gôndola específica. Um fitoterápico para distúrbios hepatobiliares (doenças que acometem o fígado), por exemplo, deve ficar perto de outros produtos desse gênero, mesmo que alopáticos. Existem categorias que não se encaixam em outras; nesse caso, pode-se montar um lado da gôndola ou um corredor só com produtos fitoterápicos”, sugere. 

O acesso aos fitoterápicos no PDV contribui para ampliar suas vendas, desde que não esbarre na indução ao consumo, como qualquer outro medicamento. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os medicamentos fitoterápicos seguem as mesmas regras de exposição de qualquer medicamento, os isentos de prescrição podem ser mantidos na área de autosserviço, enquanto os de venda sob prescrição médica devem ser mantidos atrás do balcão. 

Sintéticos x Fitoterápicos

Os fitoterápicos podem agir como profiláticos ou curativos em diversas doenças. Por serem produzidos exclusivamente com matéria-prima ativa vegetal, agem no organismo como alopáticos, sendo que todas as substâncias presentes na planta medicinal utilizada na sua preparação atuam em conjunto em um órgão ou sistema do organismo.

A principal diferença com os sintéticos é que nestes existe uma agregação de elementos químicos para isolar a molécula principal, enquanto os fitoterápicos utilizam o chamado fitocomplexo, ou seja, todos os componentes do extrato seco padronizado ou da tintura interagem para a obtenção do efeito terapêutico desejado. 

O modo de ação dos medicamentos fitoterápicos está relacionado com sua composição, ou seja, às drogas vegetais que os compõem, pois há uma grande variedade de substâncias ativas presentes nestas drogas vegetais com atividade biológica, e que estão classificadas quimicamente.

Essas classes de ativos podem apresentar mais de uma atividade e a droga vegetal apresenta mais de uma classe de ativos. As principais classes são os taninos, flavonoides, antraquinonas, saponinas, cardioativos, óleos essenciais, alcaloides, lignoides, entre outras. 

Categorias distintas

Atualmente, existem duas esferas de registro de fitoterápicos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): Medicamento Fitoterápico (MF) e Produto Tradicional Fitoterápico (PTF). Elas se distinguem pelo conteúdo de informações técnico-científicas que respaldam tanto a segurança, quanto a eficácia dos produtos. 

Os PTFs são produtos com vasto histórico de uso tradicional, seja no Brasil, seja em outros países. Esses produtos podem ser utilizados por curtos períodos e para condições que não sejam consideradas graves, sem a exigência de acompanhamento médico. 

Já os MFs são fitoterápicos para os quais foram realizadas pesquisas clínicas e não clínicas. Eles podem ou não exigir a prescrição médica, dependendo da indicação terapêutica. No que se refere à produção e ao controle de qualidade, não há distinção para essas categorias. Haverá uma diferenciação somente nos dizeres de rotulagem e bula. 

Os PTFs têm regras específicas para rótulo e folheto e sempre trarão a inscrição: “Produto registrado com base no uso tradicional, não sendo recomendado seu uso por período prolongado”. Já os MFs seguirão a regra para rotulagem e bula de medicamentos em geral.

Fonte: Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápico, Suplemento Alimentar e de Promoção da Saúde (Abifisa)


Autor: 
Marcelo de Valécio e Vivian Lourenço

 

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Edição 286 - 2016-09-01 Opção de escolha

Essa matéria faz parte da Edição 286 da Revista Guia da Farmácia.

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