Cuidados necessários para o momento

Ser mãe é uma experiência única, mas o período traz inúmeras mudanças, desde as alterações hormonais até o crescimento do bebê. Todas as etapas são importantes e devem ser bem tratadas 

Dizem que a gravidez deixa a mulher mais bonita. Esse momento é realmente mágico. Ele traz consigo toda uma transformação, tanto na rotina quanto no psicológico. Trata-se de um período de adaptação, é preciso aprender a lidar com os imprevistos e alegrias que irão surgir ao longo dos nove meses.

Preparar o corpo para gerir uma vida não é simples. Durante a gestação, a mulher passa por inúmeras alterações hormonais, que desencadeiam reações em todos os sistemas do organismo. Uma gestante está susceptível a mudanças tanto fisiológicas (não são consideradas doenças), quanto patológicas (consideradas doenças). Com tantas alterações, é comum que os consultórios médicos e farmácias recebam muitas mães com dúvidas e queixas a respeito dessa fase única.

Segundo a ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, Dra. Ana Claudia Colacique, as principais mudanças que o corpo da mulher sofre nesse período são: aumento do volume abdominal; aumento do volume e aparecimento de vasos nas mamas; alterações da cor da pele, como manchas castanhas no rosto, maior pigmentação da aréola do mamilo ou uma linha escura na barriga, abaixo do umbigo, que desaparecem depois do parto; sonolência, principalmente, no primeiro trimestre; aparecimento ou piora da obstipação (prisão de ventre); e maior frequência urinária.

Entre as alterações fisiológicas, a ginecologista destaca: aumento do volume sanguíneo, da frequência cardíaca e discreta queda na pressão arterial; aumento da atividade renal; aumento da frequência respiratória; lentificação da digestão e movimentos intestinais.

“As principais dúvidas são com relação a alimentação; exercícios físicos; controle de peso; medicamentos e tratamentos permitidos e proibidos; tempo de gestação em que é possível saber o sexo do bebê; quais os tratamentos estéticos permitidos (por exemplo: se pode tingir ou alisar os cabelos); e, ainda, dúvidas em relação ao parto”, explica a dermatologista, Dra. Juliana Machado.

Surgimento de estrias

Uma das reclamações mais comuns é a respeito das estrias, que começam a surgir com mais força no último trimestre da gestação, entre a 26ª e 27ª semana de gravidez. O problema acomete até 90% das mulheres grávidas. No entanto, há estudos que indicam alguns fatores que podem potencializar o aparecimento de estrias nesse período.

“A idade da mãe, ganho de peso excessivo durante a gravidez e o tamanho do bebê são os três principais fatores. A obesidade e o tabagismo também podem colaborar”, relata a dermatologista, Dra. Carolina Maçon.

Contrariando a lógica popular, são as mulheres mais jovens as mais propensas ao surgimento das estrias na gestação. “A idade é um fator protetor. Mulheres maduras têm 70% menos chance de sofrer com o problema, acredita-se que devido à conformação das fibras. Já pacientes mais jovens, criam um colágeno mais suscetível à ruptura”, conta a Dra. Carolina.

Quando presentes no corpo, as estrias exigem um tratamento complexo para ser retiradas, por isso é fundamental que a mulher faça um trabalho preventivo, já no início da gestação.

“O uso de hidratantes deve ser encorajado, como forma de tentar a prevenção (mantêm a pele hidratada nas áreas de risco). No entanto, só devem ser indicados procedimentos e princípios ativos sabidamente isentos de efeitos nocivos à gestante e ao seu concepto”, alerta a dermatologista, especialista em dermatologia pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Dra. Erica Monteiro.

Glicerina, cera de abelha, manteiga de karité e peptídeos de abacate são alguns ingredientes que hidratam e trazem conforto à pele. Além de serem formulados com substâncias que não causam problemas, também evitam o surgimento de alergias, muito comuns nesse período. 

“As mudanças hormonais ocorridas durante a gestação podem provocar alterações imunológicas, por isso a mulher fica mais suscetível a reações alérgicas. Deve-se evitar contato com substâncias químicas, como perfumes e corantes”, orienta a Dra. Carolina.

Manchas e proteção solar

Podem aparecer manchas na pele, sendo a mais comum o melasma no rosto. As manchas aparecem quando ocorre exposição solar da pele. Há predisposição à pigmentação em face, aréolas, axilas e região genital, principalmente em mulheres com a cútis morena.

Para as manchas no rosto, a orientação é sempre se proteger do sol com o uso de filtro solar e chapéu para amenizar o problema.

Rachaduras nos mamilos

Por conta da amamentação, os seios são uma das regiões que mais sofrem mudanças ao longo da gestação. Ficam mais volumosos já desde o início da gravidez. O problema é que os seios não são suportados por nenhum músculo, sua manutenção depende da tonicidade da sua pele. O aumento súbito do volume prejudica a elasticidade e, ao mesmo tempo, causa desconforto e até dor.

Há diversas dicas caseiras para aliviar a pressão na região, como compressas de água fria que dão um alívio à tensão mamária, no entanto, o efeito costuma ser temporário e sem qualquer impacto sobre a flexibilidade da pele. O ideal é que, desde o início da gravidez e até termino do período de amamentação, sejam feitas massagens com produtos específicos, capazes de preservar a elasticidade da pele e estimular a produção de fibras. 

“Nesse momento, é indicado optar por fórmulas apropriadas para a gravidez, que excluam ingredientes desaconselhados (parabenos, ftalatos, fenoxietanol, cafeína, bisfenol A e S, álcool) e que sejam compatíveis com a amamentação, se necessário”, orienta a gerente de marketing da Mustela® no Brasil, Marina Lima.

A massagem pode ser combinada ao cuidado para a prevenção das estrias, pois os seios apresentam grande predisposição para desenvolver estas marcas devido às mudanças hormonais e à distensão repentina da pele.

No início da amamentação, os mamilos podem ficar sensíveis, avermelhados e com pequenas fissuras (rachaduras). Essas lesões são um incômodo para as mulheres, pois causam dor e dificuldades para a amamentação. Podem ser desencadeadas pela “pega” errada da criança ou pela sucção ineficiente.

A Dra. Erica destaca alguns cuidados que podem evitá-las, como:

Posicionamento adequado durante a amamentação.

Após a mamada, o bebê deve ser retirado do peito com cuidado. Deve-se colocar o dedo no canto da boquinha, entre a língua e o mamilo, e depois retirar delicadamente a criança. Se a retirada for brusca, a criança poderá “morder” o mamilo e causar ferimentos.

O uso das “conchas” ou absorventes evitam o atrito com o tecido do sutiã, prevenindo as rachaduras.

Pomadas para aplicação na aréola e papila mamária podem ser úteis, estão indicadas as com ingredientes comestíveis e que não necessitem ser removidos (lavados) antes da mamada.

Anemia ferropriva

Independente da fase da gestação, é muito importante que a mulher tenha sempre uma dieta saudável, rica em frutas, verduras, legumes, castanhas e cereais integrais, além de evitar as gorduras saturadas, o açúcar e a farinha branca.

Mesmo assim, ela precisará de um maior aporte de ferro, em torno de 30 mg/dia no segundo e terceiro trimestre para evitar anemia, complementa a ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, Dra. Mariana Halla. Ácido fólico 400-800 mcg/dia, principalmente no primeiro trimestre, e cálcio de 1.000 a 1.300 mg/dia, especialmente nos últimos meses de gestação, quando ocorre a mineralização dos ossos do feto.

De forma geral e resumida, a ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim destaca:

1. Primeiro trimestre: ácido fólico, prevenção de defeitos do tubo neural e lábio leporino.

2. Segundo trimestre: ferro e prevenção da anemia ferropriva.

3. Terceiro trimestre: cálcio e a mineralização óssea, ômega 3 e formação do cérebro e retina fetal. 

VITAMINA A

Participa do desenvolvimento das células, coração, aparelho circulatório e digestivo do bebê.

COMPLEXO B

Essa família inclui as vitaminas B1, B2, B3, B6, B12 e o ácido fólico. Eles contribuem para a formação de células novas. A vitamina B6 ajuda no desenvolvimento do sistema nervoso do bebê e a B12 é importante para a produção de células vermelhas no sangue.

VITAMINA C

Essa vitamina ajuda a produzir tecidos novos, portanto, é fundamental para o desenvolvimento do bebê. Além disso, ela ajuda o organismo a absorver o ferro dos alimentos.

VITAMINA D

É fundamental para a absorção do cálcio e para o desenvolvimento dos ossos e dentes do bebê.

VITAMINA E

É antioxidante e ajuda a defender as células


Suplementação e vitaminas

As necessidades energéticas das gestantes devem ser calculadas de acordo com peso, idade e nível de atividade física, destaca a Dra. Mariana. No primeiro trimestre, essa necessidade é igual à de mulheres não grávidas. No segundo trimestre, devem-se acrescentar 340 kcal à dieta e, no terceiro trimestre, mais 452 kcal.

Em média, a mulher precisará de 36 kcal/kg ao dia. Além disso, vai necessitar de vitamina C, vitamina E, ácido fólico, ferro, zinco, magnésio, cálcio e fósforo a mais que a demanda de uma mulher não grávida.  

“A ingestão de proteínas deverá ser, em média, de 60 g/dia. A dosagem da vitamina D no sangue da futura mamãe é essencial e deverá ser suplementada sempre que houver níveis abaixo do esperado.”

É a dieta adequada que desempenha papel fundamental para a formação do bebê durante a gravidez. A alimentação deve ser bem equilibrada, contendo os três grandes grupos de alimentos: carboidratos e gorduras, proteínas e vitaminas e sais minerais. 

“Para suprir essas necessidades, a mãe deve consumir cereais, produtos integrais, frutas, legumes, verduras, laticínios e carnes e, de acordo com a recomendação do médico, suplementos que possuem funções específicas e garantem a saúde da mãe e o perfeito desenvolvimento fetal”, completa a dermatologista, Dra. Juliana.

Uma das vitaminas que certamente a grávida irá consumir, como explica o especialista em medicina preventiva, Dr. Fábio Cardoso, é o ácido fólico, devido à sua importância para a formação neural dos bebês. Há evidências científicas de que essa vitamina precisa ser reposta, mesmo que a mulher se alimente de maneira adequada. Ela deve ser ingerida, preferencialmente, três meses antes de engravidar e até a 13ª semana de gestação.

As vitaminas C e E ajudam na diminuição do risco de anomalias cromossômicas, por isso, são recomendadas. O ácido fólico auxilia na prevenção de malformações congênitas e ele é encontrado em alimentos, como os vegetais de folhas verdes, cereais matinais fortificados, legumes, nozes, feijão, frutas, como laranja, melão e banana, além dos grãos, leite e carne de órgãos, como o fígado, por exemplo, cita a nutricionista do Hospital San Paolo, Flavia Salvitti.

“Normalmente, os médicos prescrevem ácido fólico para tomar três meses antes da concepção”, destaca a Dra. Juliana. Segundo a dermatologista, o ácido fólico evita malformações da medula espinhal. O ferro é fundamental para a formação das células do sangue e a vitamina C ajuda na sua absorção, além de participar do processo da formação de colágeno, vasos sanguíneos, pele, cartilagem e auxiliar no fortalecimento do sistema imunológico. No fim da gestação, o cálcio é de extrema importância para a formação dos ossos do feto.

Autor: Flávia Corbó e Vivian Lourenço

 

Momento único

Edição 291 - 2017-02-01 Momento único

Essa matéria faz parte da Edição 291 da Revista Guia da Farmácia.

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