Algumas infecções causadas por vírus e bactérias acometem mais as crianças do que os adultos, devido à sua exposição ao meio ambiente. Nas altas temperaturas, os problemas no aparelho gastrointestinal se tornam mais frequentes
Se resfriados e gripes são comuns quando as temperaturas estão em queda, as infecções do aparelho gastrointestinal se intensificam quando os dias ficam mais quentes.
Não é raro ver uma criança com sintomas de vômito, diarreia e desidratação. Esses quadros são causados pelos rotavírus e norovírus. O rotavírus é um vírus da família Reoviridae. Sua transmissão é por via fecal-oral, o que significa que ele é eliminado pelas fezes, contaminando água ou alimentos, sendo transferido para outros, principalmente, por meio das mãos, como explica o pediatra formado pela Faculdade de Medicina do ABC, com especializações e títulos pela Universidade Federal de São Paulo na Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM), Sociedade Brasileira de Pediatria e General Pediatric Service da University of California – Los Angeles (Ucla), Dr. Sylvio Renan.
Além disso, o rotavírus apresenta sete tipos diferentes de sorotipos que são antigênicos (capaz de causar produção de um anticorpo) diferentes, mas da mesma espécie microbiana. Porém, apenas três infectam o ser humano. “É uma das mais importantes causas de diarreia grave em crianças menores de cinco anos no mundo, particularmente nos países em desenvolvimento”, alerta a pediatra e diretora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do A. C. Camargo, Dra. Fabíola Peixoto.
O norovírus, apesar de ser pouco conhecido do público, é transmitido por água e alimentos contaminados. Ele é um importante causador de gastroenterites não bacterianas no Brasil. A transmissão de pessoa para pessoa ocorre com facilidade.
“Diferentemente de outros vírus causadores de gastroenterites (como o rotavírus), o norovírus afeta com frequência indivíduos adultos”, complementa a Dra. Fabíola. Os norovírus estão muito associados a surtos em locais confinados ou de contato próximo, numa mesma família, em navios, asilos e ambientes hospitalares, por exemplo.
Sintomas mais comuns
O norovírus tem alta infecciosidade. O contato com o aerossol do vômito de uma pessoa infectada, por exemplo, pode ser suficiente para a transmissão. Além disso, tem alta resistência, permanecendo em superfícies com as quais uma pessoa infectada teve contato, o que torna o compartilhamento de espaços e objetos um problema. “A facilidade de transmissão do vírus dificulta muito o controle de surtos. O principal risco é a manipulação dos alimentos e a lavagem das mãos é fundamental para evitar a transmissão do norovírus”, destaca a diretora da UTI Pediátrica do A. C. Camargo.
Com isso, as crianças acabam sendo as mais acometidas pela enfermidade. “Porque pela via de transmissão, elas se infectam com água e alimentos, objetos contaminados e provavelmente por secreção respiratória”, explica o clínico geral do Hospital San Paolo, Dr. Bento Carvalho Filho.
A sazonalidade estende-se do outono à primavera nos países de clima temperado, porém, nas regiões tropicais, as infecções ocorrem o ano todo. “Os sintomas de alerta são, em sua maioria, vômitos, diarreia aquosa e febre”, completa o Dr. Carvalho Filho. Além desses sintomas, a Dra. Fabíola destaca também o surgimento de diarreia por mais de 48 horas, sangue e muco nas fezes; dor abdominal muito forte impossibilitando a pessoas de ficar em pé; temperatura > 38,5ºC; evacuação > oito vezes ao dia; sinais de desidratação (saliva grossa, sem urinar, sem lágrima).
Prevenção e Tratamento
A prevenção é feita com a lavagem correta das mãos, principalmente, após evacuações e antes de refeições. Ingerir sempre alimentos bem higienizados e água tratada é fundamental. Além disso, o Dr. Renan cita a existência, atualmente, de uma vacina contra rotavírus, que é aplicada pelo governo e clínicas particulares, por via oral, e sua aplicação ocorre em duas ou três doses, devendo ser completada antes da criança completar seis meses de idade.
Segundo a Dra. Fabíola, duas vacinas de vírus vivos atenuados contra o rotavírus, para uso oral, estão licenciadas no Brasil:
• Vacina pentavelente: contém cinco cepas rearranjadas humano-bovinas – RV5 (Rotateq®, do laboratótio Merck Sharp & Dohme).
• Vacina monovalente humana – RV1 (Rotarix®, do laboratório GlaxoSmithKline Biologicals).
A vacina monovalente (RV1) está disponível nos serviços públicos de vacinação e a vacina pentavalente (RV5) está disponível apenas nos serviços privados.
“Não existe tratamento cientificamente comprovado para eliminação do vírus. Assim, o que se faz é estimular a ingestão de líquidos (água ou soro caseiro) para se evitar a desidratação. Caso a mesma venha a ocorrer, o paciente deve ser internado para hidratação por via venosa”, orienta o Dr. Renan.
Segundo a Dra. Fabíola, calcula-se que 6% a 24% das doenças diarreicas da criança e 20% a 70% das hospitalizações por diarreia sejam determinadas pelo rotavírus. No Brasil, dados do DATASUS estimam que crianças com idade até três anos tenham 2,5 episódios de doença diarreica/ano e que 10% delas sejam causadas pelo rotavírus.
A doença diarreica causada pelo rotavírus é mais prevalente entre lactentes e crianças até os cinco anos de idade, predominando na faixa etária dos seis aos 24 meses. Em locais onde a vacina não é aplicada, praticamente todas as crianças que chegam aos cinco anos de idade já foram infectadas pelo rotavírus.
Importância dos repositores da flora intestinal O principal risco do rotavírus nas crianças é a desidratação. A orientação do pediatra formado pela Faculdade de Medicina do ABC, com especializações e títulos pela Universidade Federal de São Paulo na Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM), Sociedade Brasileira de Pediatria e General Pediatric Service da University of California – Los Angeles (Ucla), Dr. Sylvio Renan, é repor os líquidos com soluções prontas para a hidratação, via oral, que podem ser encontradas nas farmácias. “Nas farmácias populares, é possível encontrar gratuitamente a distribuição do soro. Em casos graves, a criança deve ser direcionada ao hospital para tomar soro intravenoso.” Em casa, os pais podem oferecer água, chá, água de coco, sucos e isotônicos. “Para casos severos, com diarreia, é indicado procurar um médico para melhor avaliação, se há ou não a necessidade de usar repositores da flora intestinal.” |
Orientação ao paciente • Administrar a vacina contra rotavírus pentavalente ou a vacina contra rotavírus monovalente em crianças menores de seis meses de idade. • Seguir os cuidados com higiene pessoal e doméstica. • Lavar sempre as mãos antes e depois de utilizar o banheiro, trocar fraldas, manipular/preparar os alimentos, amamentar, manusear materiais/objetos sujos, tocar em animais. • Lavar e desinfetar superfícies, utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos. • Proteger os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, animais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em recipientes fechados). • Tratar a água para beber (por fervura ou colocar duas gotas de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água, deixar repousar por 30 minutos antes de usar). • Guardar a água tratada em vasilhas limpas e de boca estreita para evitar a recontaminação. • Não utilizar água de riachos, rios, cacimbas ou poços contaminados. • Ensacar o lixo e manter a tampa do lixo sempre fechada. • Quando não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado. • Usar sempre a privada, mas se isso não for possível, enterrar as fezes sempre longe dos cursos de água. • Ter cuidado para não contaminar as fontes de água com fezes e lixo. • Manter o aleitamento materno aumenta a resistência das crianças contra as diarreias. • Evitar o desmame precoce. |
Autor: Vivian Lourenço