Pesquisa global aponta que as mulheres mais jovens são as que mais se esquecem de tomar a pílula anticoncepcional. O estresse e a agenda atribulada colocam em risco a prevenção à gravidez
A mulher moderna não perde tempo; faz mil e uma coisas num instante. Trabalha, cuida da família, do namorado, dos filhos, da casa… são tantos afazeres que elas acabam negligenciando os próprios cuidados.
Ser multitarefa é um adjetivo que define bem os Millennials, a geração composta por jovens adultos na faixa entre os 20 e 35 anos de idade e que têm conhecimento sobre os mais variados assuntos, o que faz com que estes jovens estejam sempre atentos e por dentro de tudo o que acontece no mundo.
A quantidade de informação, somada a uma a vida atarefada, faz com que esse grupo se estresse cada vez mais. No caso das mulheres, ele tem sido a causa de esquecimento frequente de atividades comuns, como tomar a pílula anticoncepcional; levar chaves, carteira e celular; ou tirar a maquiagem antes de dormir, por exemplo.
É o que apontou a pesquisa global Millennials e Contracepção – Por que nos esquecemos?, realizada pela Bayer em vários países e que contou, no Brasil, com apoio do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O estudo explorou como a memória das mulheres Millennials pode ser impactada pelo estresse, levando em consideração as mudanças no estilo de vida delas em um curto espaço de tempo e a influência disto em suas atividades e hábitos diários.
A pesquisa foi conduzida em nove países (Alemanha, Bélgica, Brasil, Espanha, Estados Unidos, França, Irlanda, Itália e México) com mulheres entre 21 e 29 anos de idade, que fazem uso de pílulas anticoncepcionais.
No Brasil, mais de 16 milhões de mulheres se encontram na faixa entre 20 e 29 anos de idade, o que representa 16,2% da população total, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados revelam que boa parte delas se esquece, regularmente, de fazer atividades cotidianas. Entre as ações mais esquecidas, estão tomar a pílula anticoncepcional (58%), remover a maquiagem antes de dormir (20%) e levar consigo chaves, carteira e celular (10%). Elas atribuem isso a uma tendência em ser esquecida (39%), ter alguma preocupação (30%) e mudanças na rotina (13%).
Motivos do esquecimento
De acordo com o estudo, as brasileiras são as que mais se esquecem de tomar a pílula anticoncepcional. Enquanto a média mundial ficou em torno de 39%, no Brasil, 58% delas apontaram esquecimento pelo menos uma vez no último mês. Considerando o último ano, a taxa de esquecimento sobe para 89% entre as brasileiras.
Em relação à pílula, os principais motivos apontados para o esquecimento são não tomá-la todo dia no mesmo horário (32%), não deixá-la em lugar visível (21%), estresse no trabalho ou nos estudos (20%) e agenda cheia (17%).
Outro aspecto sensível é que seis em cada dez brasileiras (58%) não tomam a pílula no mesmo horário todos os dias. Quase 40% delas não consideram necessário esse cuidado.
“Algumas pílulas, por terem baixa dosagem hormonal, devem ser ministradas sempre no mesmo horário para garantir a eficácia. De acordo com o Estudo Coraliance, realizado na França, as pílulas, quando tomadas diariamente e sem pausa, ajudam a melhorar a adesão por não haver quebra na rotina das mulheres. É importante lembrar que a continuidade do uso também traz benefícios adicionais, como a redução do sangramento, a melhora da acne e dos sintomas da Tensão Pré-Menstrual (TPM)”, afirma o ginecologista e professor livre-docente do Departamento de Ginecologia da Unifesp, Dr. Afonso Nazário.
Segundo as participantes da pesquisa, a rotina influencia o esquecimento do uso correto do contraceptivo – 64% das brasileiras são mais propensas a esquecer a pílula quando estão preocupadas. Esse fato gera outro comportamento também apontado pela pesquisa: dessas mulheres, 74% já consideraram métodos contraceptivos que não precisam ser tomados diariamente.
Contracepção x prevenção
Um dado preocupante da pesquisa aponta que, em todos os países, as mulheres abandonam o uso do preservativo (camisinha) quando utilizam a pílula como método anticoncepcional e esta tendência aumenta com a idade.
No início da segunda década de vida, apenas 17% delas combinam os dois métodos, já no fim, este percentual cai ainda mais, alcançando 11%.
As brasileiras estão entre as que menos utilizam o preservativo quando adotam a pílula, apenas 6% delas combinam os métodos. Ficam atrás somente das irlandesas (5%).
Levando em consideração que a maior concentração dos casos de AIDS no Brasil está na faixa entre 25 e 39 anos de idade para ambos os sexos (53,6% entre eles e 49,8% entre elas), segundo o Ministério da Saúde, este dado da pesquisa mostra a sensibilidade do tema e a necessidade de uma maior conscientização para a prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs).
Autor: Vivian Lourenço